segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Haiti e a Profecia Priapista


Aviso já quem estiver desse lado que hoje estou aqui para falar de um assunto sério. É raro acontecer mas a gravidade da situação exige-o. Não me refiro a situações genéricas como a irresolúvel oscilação entre o paneleiro e o pedófilo quando uma repetente do nono ano com tetas de matrona e mamilos de omeleta pergunta ao macho digno desse nome se pode servir-se da sua gaita como sucedâneo durante o difícil período de desmame entre a idade da chupeta e a idade de votar. Tão-pouco falo de casos como o do jovem enamorado incauto que rebentou as poupanças todas num exótico jantar oriental - na esperança do suborno lhe valer uma noite a rasgar à tarolada o embrulho da membrana pós-vulvar da virgem alarve que no fim do enfardanço ainda pediu a sobremesa mais cara do restaurante -, apenas para descobrir, já todo nu dentro do carro, que o hímen da gorda (o nobre mas frágil samurai que guarda o canal uterino), incapaz de aceitar a desonra da iminente derrota sob o ímpeto esfodaçante do general Picha, seus dois couraçados de pele e exército de pintelhos, decidiu cometer hara-kiri mesmo para cima dos estofos recém-aspirados de acordo com a tradição ancestral e mens(tru)al que já vem dos tempos da primeira cona em bico.

Não. Refiro-me muito em específico à recente piadinha divina de mau gosto de um qualquer deus menor que decidiu assustar os amigos abanando o Haiti, do mesmo modo que o comum mortal abana a mesa com os joelhos durante um jantar familiar dando a entender aos comensais que está a haver um terramoto, causando assim um AVC à minha tia Rosa. Repare-se que não pretendo pôr-me aqui a pontificar sobre a necessidade de se prestar auxílio rápido a quem neste momento algures em terras haitianas habita a cave de um edifício que antes do terramoto não a tinha, ou sequer repisar a lengalenga do terrível sofrimento vivido pelas mães que de súbito viram o seu número de filhos descer para os dois dígitos. Não. Estou aqui na qualidade de profeta. Venho avisar o punheteiro leitor que o pior está para vir e que vai calhar a todos. Quer os argumentistas hollywoodescos tenham razão e o mundo vá acabar em 2012 como previram os Maias, quer seja eu quem tem razão e esses mesmos argumentistas tenham percebido mal a mensagem quando foram contactados pelos seus “eus” futuros, sobreviventes da grande catástrofe global de 2010, que viajaram do ano de 2012 até aos nossos dias para lhes darem a informação de que o mundo vai acabar já em Maio, o que é certo é que o fim está próximo.

O típico profeta de colhões rotos, obviamente, diria que vamos todos morrer num terramoto mundial que vai foder esta merda toda. Contudo, possuindo eu um saco escrotal hermeticamente fechado, com rugas mas sem fugas, pretendo deixar-vos hoje uma profecia muito mais rebuscada mas também muito mais plausível, que daqui a um século e picos sem dúvida fará merecer a inauguração da Escola Secundária C+S Príapo, recheada de pitas mamalhudas com pêlo de pêssego na regueifa repetente, e na transformação do Priapismo em doutrina religiosa, tendo essas mesmas pitas de comungar aos Domingos de manhã na miça (i.e. missa da piça), dissolvendo a hóstia em forma de caralho na língua em memória de mim, cerimónia antes da qual o padre beberá o leitinho milagrosamente transubstanciado na minha esporra divina, simbolizando a paneleirice que é andar vestido assim em público. A que profecia me refiro? Para sabê-lo, o leitor com a escolaridade mínima terá de saber a resposta à seguinte questão: que apocalíptico acontecimento futuro é prenunciado por a) uma catástrofe no Haiti; b) um mini-terramoto a 180km da costa portuguesa; e c) um modelo matemático construído por dois ou três estudantes universitários de matemática do Canadá, fartos até à virgindade de construírem modelos matemáticos?

Adivinhando já que, tal como as estrofes da proposição d’Os Lusíadas e conas que não sejam coagidas pela força a escancararem-se, a questão será absolutamente impenetrável para o leitor, farei algo a que estará sem dúvida habituado desde o início da sua curta carreira académica: dar-lhe-ei explicações.

É óbvio que um terramoto à escala global estará associado ao apocalipse que se avizinha. Qualquer profeta que se preze tem sempre de incluir uma catástrofe natural na profecia que apresenta, e eu não serei excepção. O que eu nego é que seja essa a componente apocalíptica do apocalipse. Comecemos por analisar a): a actual situação no Haiti. É terrível, uma tragédia, sim, todos o sabemos, mas também é um facto que a taxa de fertilidade do Haiti é a maior de todo o hemisfério Ocidental. Ou seja, é mau mas a longo prazo não é grave. Se um casal de idosos ficou soterrado nos escombros do arranha-céus haitiano de quatro andares em que habitava e ainda não foi encontrado, podem acreditar que quando forem resgatados serão já pais de cinco filhos com dois netos a caminho. O Haiti é uma das maiores potências mundiais da foda desprotegida, não há como negá-lo. O que é importante, digo-vos, não é a quantidade de mortos. A ajuda humanitária pode tardar mas o trabalho de reposição de stock demográfico já vai neste momento bem adiantado. Desconfio até que terá sido esse mesmo trabalho incessante que causou o terramoto. O que me arrepia a pintelheira toda até parecer uma gata assanhada com um caralho na testa é o que vai acontecer agora aos que estão mortos. Isto porque o Haiti, além de ser conhecido por ser terra onde pachacha e mangalho raramente andam separados, é-o também por ser o único local do mundo onde ainda se produzem zombies de pleno direito. Literalmente de pleno direito - descobri recentemente que o artigo 249 do Código Penal Haitiano criminaliza de modo bastante claro todo o acto zombificante como se fosse homicídio. Confesso que não deixei de achar isto por demais interessante. Não fazia ideia de que havia leis no Haiti, sempre pensei que a pretalhada resolvesse tudo à base da chapada. Lá está, se alguém algures aprendeu alguma coisa no meio desta desgraça toda é porque a catástrofe não foi total. Priapismo também é optimismo.

Até agora a gravidade da zombificação tem sido pouco mais do que moral. Era um zombie aqui e outro ali, nada de especialmente perigoso. Mas e agora que há dezenas de milhares de cadáveres fresquinhos prontos a erguerem-se da vala comum? “Ah, Príapo”, alvitra o brochista leitor, “vai mas é para o caralho mais as tuas teorias de merda, que zombies a sério não existem”. Em primeiro lugar, quem vai para o caralho és tu mais a puta da tua avó que se ainda não estiver enterrada há-de estar mais morta que viva e logo aí o teu raciocínio é enrabado com dois marsapos africanos. Segundo, a revolta dos mortos-vivos no Haiti, longe de ser pura especulação priapista, já começou. Os noticiários online dizem-no todos os dias para quem quiser ler: “up to 200.000 feared dead”. Traduzindo para o leitor que nunca teve positiva a Inglês na vida, há neste momento no Haiti "para cima de 200.000 temíveis mortos". Os cadáveres enfurecidos e entesoados de milhares de haitianos em busca de foda e massa encefálica caminham já sobre as terras caribenhas. Se o leitor com cara de cu lá estivesse neste momento correria o risco muito real de ser enrabado na boca.

“E porque é que nos havemos de preocupar com isso se eles estão lá e nós estamos cá?”, replicará o leitor, como quem pede uma sandocha de punho. Será preciso mencionar que há gente de praticamente todos os países ocidentais a ir para lá neste preciso momento (incluindo Portugal), desde jornalistas, médicos e soldados a turistas sem televisão? E se aquela merda se pega, quem é que se vai foder quando eles voltarem para casa, diz lá? Pois é, és tu, seu paneleiro. Quando tiveres um enviado especial da RTP a mascar-te o hipotálamo enquanto te entrevista os cagalhões com um microfone de piça lembra-te bem de quem te avisou.

E antes que me chateie passo a referir o supramencionado ponto c). No ano passado, alguns estudantes de matemática do Canadá que nem para minete conseguiam arranjar xoxota voluntária fizeram um estudo que à primeira vista parece panasca mas que até nem é. O que fizeram foi colocarem a si próprios duas questões. Primeiro, “o que aconteceria se pegássemos num modelo matemático para previsão da progressão de uma doença infecciosa numa dada população de humanos, e imaginarmos que os infectados se tornavam zombies depois de morrerem?”; e segundo, “será que todo o pito cheira ao mesmo que as cuecas da minha mãe?”. A segunda questão é meramente académica, sendo óbvio que as condições necessárias para a comprovação empírica da hipótese nunca estarão reunidas. A primeira, por outro lado, ofereceu um resultado interessante: numa população de 500.000 habitantes, o número de infectados (zombies) ultrapassaria o número de não-infectados no espaço de três dias. Isto, claro, se não fossem tomadas medidas zombicidas imediatas e brutalmente drásticas. E não estou a falar de pôr mija-mijas de alcoól nos elevadores para besuntarem os calos das mãozinhas, ou encherem a dobra do braço ranhoca de cada vez que espirrarem. Estou a dizer que em tempos de perigo generalizado de contágio com o vírus zombificante, se a vossa rica mãezinha se espreguiçar de maneira esquisita uma manhã é rachar-lhe logo os cornos em dois com um machado de bombeiro sem dizer "bom dia" ou "faz-me já o pequeno-almoço, puta", para não correr riscos.

Recordo agora o ponto b). Portugal teve sorte, fomos avisados cedo e ao de leve. Esta merda tremeu toda mas o mais grave que aconteceu foi a colecção de dildos do amigo leitor ter caído da prateleira, ficando fora de ordem. Mas tal como o viajante exausto que pára numa plantação de caralhos para descansar após uma longa caminhada, não podemos simplesmente sentar-nos e esperar que nada aconteça. Proponho, então, a criação imediata da primeira Brigada Anti-Zombie portuguesa (a BRAZ), para que quando o apocalipse dos mortos-vivos rebentar em terras lusas estejamos preparados em vez de ficarmos barricados em casa a perguntar-nos se cada punheta será a última, enquanto lá fora o mundo acaba e cá dentro o stock de pornografia fresca se vai esgotando aos poucos.

Se eu estiver enganado e nada acontecer também não há azar. Que se foda, invadimos Espanha e usurpamos o Governo. Nem precisamos de mudar o acrónimo nem nada, muda-se só “Anti-Zombie” para “Anti-Zapatero”.

De maneira que é isto. Quem está comigo?

domingo, 17 de janeiro de 2010

Assembleia em Festa


Artista convidado:
Dr. Pakito, mui Ilustre Advogado


No dia 8 de Janeiro de 2010 houve festa na Assembleia da República para toda a gente. Refiro-me, claro, à aprovação do casamento homossexual. Mas a festa não acabou nesse dia, julgo até que irá durar por muito tempo. O que é bom, pois o que faz falta a este país são mais festas. De facto, se mais pessoas andarem alegres menos andarão tristes. É uma lógica do caralho mas é lógica e por isso parem de pensar que é uma lógica da treta, porque mesmo assim será lógica.

Pergunta o caro leitor: como pode ter havido festa para toda a gente se há pessoas que são contra o casamento gay? Antes de mais, de ora em diante vou usar a expressão casamento gay em vez de casamento homossexual. Em primeiro lugar, porque a origem desta palavra inglesa significa alegre e o que se quer num casamento é alegria, e, em segundo lugar, porque está em sintonia com o título deste post. Quem achar que isso discrimina as lésbicas, que vá levar no cu... É para ser um insulto mas se acharem que até é um elogio recebem-no de braços abertos. Ou será melhor de pernas abertas?! Mas estou a afastar-me do que vos queria transmitir.

Como atrás referi, no dia 8 de Janeiro houve uma grande festa. Quando num local estão reunidos 230 palhaços isso só pode significar festarola das grandes, não há margem para dúvidas. Nem sei como aquilo no final não descambou em orgia... É certo que não seria bonito de ver, atendendo aos protagonistas, mas mesmo assim, seria o acontecimento do ano. Mas não estavam lá só palhaços. Podiamos ver homens e mulheres todos aperaltados com os seus melhores fatos e vestidos. É verdade. Havia mulheres com belos smokings e homens com extravagantes vestidos Dior em saltos de agulha. Um verdadeiro espectáculo! Também não faltava o champagne e de certeza que durante a noite houve ainda mais abertura de champagne para festejar o acontecimento, se é que me entendem... Mas os heterossexuais também festejaram, perguntam vocês? Então não haviam de festejar, respondo eu! Estou mesmo a imaginar o que aconteceu: grupos de homens heterossexuais deslocaram-se à Assembleia da República para, de punho erguido no ar, contestarem a aprovação do casamento gay, e no final, acabaram, de certeza, de punho em baixo a baterem umas belas punhetas depois de terem visto resmas de lésbicas aos melos! E aquelas beatas que para aquele local também se deslocaram com o mesmo propósito, depois de verem tanta luxúria no ar, concerteza se recordaram de que a “masturbação não fica só pela palma da mão”. Só espero que tenham todos e todas usado as casas de banho da Assembleia. Não nos esqueçamos também que, a existência de lésbicas e gays só é benéfica para os hetero. Senão vejamos:

1 – É do senso comum que os gays são sempre gajos bonitos e bem aprumados (tomemos o exemplo do Ricky Martin), pelo que, quanto mais depressa aqueles se assumirem, melhor para nós, hetero, que, veremos aumentar exponencialmente a possibilidade de esfodaçarmos aquelas gajas de beleza virginal, cuja única coisa que meteram na boca e no cu foi um termómetro.

2 – Relativamente às lésbicas, nem vale a pena gastar o meu latim para vos tentar convencer que uma bela roda de gajas a lamberem-se umas às outras, como gatas no cio, é um espectáculo a não perder. E quem sabe se, no meio do deboche, não se perde um dildo e vocês tenham a sorte de serem chamados para darem uso ao vosso?! Por muita sensibilidade que tenham as línguas das lésbicas, nenhuma diz não a um bom tarolo na cona e no cu.

Se o caro leitor ainda acha que o casamento gay é contra-natura, lembre-se que os homens hetero são em parte gays, porque todos gostam de ir ao cu. E, se a cara leitora está chocada com a linguagem, e também acha que este modo de vida é pecado, apenas lhe digo o seguinte: deixe isso para o dia do juizo final e vá se foder ou foder enquanto pode.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Sugestão para o fim-de-semana


Hoje não vou esmifrar a tesão intelectual a escrever o costumeiro rol testamentário de curiosas observações priapistas sobre isto e aquilo para que leiam enquanto coçam a mochila dos colhões com um olho no blog, outro na televisão e outro no puff mais barato que encontraram no IKEA. É sexta-feira, vão todos para o caralho que a minha vida não é isto. Hoje é dia de ver pornografia vintage com uma jola numa mão e uma punheta na outra, a acompanhar a banda sonora aos arrotos. Já fodi que chegue durante a semana, na véspera do Sábado gosto de pegar nas edições remasterizadas em DVD dos clássicos da foda do tempo dos Jogos sem Fronteiras e depenar o sabiá até se me acabar o papel higiénico ou o vácuo dos colhões ser tanto que tenho de descolá-los da próstata com uma tenaz de salada.

Mas sou um coração mole. A caminho de casa hoje –, enquanto os pêlos do cu absorviam as gotas geladas acabadas de me deslizar pela espinha e me regozijava com a surpresa que devem ter tido no final da rampa, sem dúvida comparável à de um esquiador olímpico que se viu no momento da aterragem numa fábrica de perucas ocupada por uma manada de búfalos com gastroenterite –, lembrei-me do amigo leitor e do tempo que passa sem que veja uma bela vagina, em muitos casos sem dúvida desde o ano anterior ao do seu primeiro aniversário. E senti-me mal. Não é justo que eu foda que nem um doente de Parkinson numa ala hospitalar de comatosos durante um terramoto e o amigo leitor tenha de se contentar em vir para aqui ler o que eu escrevo durante os períodos refractários. E mesmo assim nem sempre refractários, porque posso perfeitamente manusear o teclado e o rato com uma mão e a rata da mãe do amigo leitor com a outra, ainda que neste último caso apenas para fazer scroll down. Portanto, acalme-se quem lê, que Príapo está cá para ajudar.

Estou certo de que o leitor, como qualquer outro macho, apreciaria imenso durante este fim-de-semana poder tricotar um cachecol de pintelhos de cona com uma agulha de piça para agasalhar os colhões antes que se constipem e desatem para aí a espirrar. Parece-me ouvir já o pensamento que se formará de seguida na cabeça do leitor, ao lado da antecipação excitada pela estreia do terceiro filme da saga Crepúsculo (diga-se de passagem, a coisa mais paneleira que se inventou desde o empurra-bufas para homem): “mas Príapo", pensa o leitor, e não vale a pena negar, "onde poderei eu encontrar cona tão perto do fim-de-semana?”. Não há que preocupar, caro mãos-de-lixa. Na imagem acima, como já deve ter reparado, encontra-se o caminho mais curto até Cona para quem vem de Lisboa. Uma vez que em terras lusas não se safam pode ser que chegando a Espanha vos calhe alguma coisa. Quanto mais não seja não vos há-de faltar experiência de tocar castanholas, só isso merecerá sem dúvida uma xaboita espanhola bem peluda disposta a amealhar essa litrada de nhanha semi-coagulada que vos unta os colhões por dentro de tal maneira que se fôssemos fazer um bolo de esporra usando-os como forma sairia perfeitinho que era um gosto. Agora toca a vender a colecção de selos que têm usado até hoje nas vossas tentativas deprimentes de impressionar as miúdas, encher já o depósito e zarpar para Espanha, de modo a que voltem com ele vazio. Embora aí a foder! É desta que tiram esse caralho de misérias, caralho.

Quem é amigo, quem é?

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A essência do romantismo


Como todos devem certamente saber, no passado dia 10 o povo português voltou a observar duas das suas mais ilustres tradições: a de nutrir o bucho desinspirado com ideias regurgitadas da águia americana, e a de ir para o Metro sem calças. Apesar de pessoalmente, no que toca às ideias assim como às gajas, apreciar muito mais quando sou o primeiro a chegar lá, tenho de admitir que me juntei à carneirada e fui também para o subterrâneo gelar a colhoada à pinguim, de fato e sem calças, rodeado de outros tantos viajantes de boxers e cuecas, na face anterior dos quais o passageiro desinformado podia consultar de modo bastante útil representações artísticas da linha amarela (no caso dos passageiros que não tiveram tempo de esperar que a tesão matinal passasse antes de mijar), vermelha (no caso das gajas que não aprenderam ainda que o líquido azul dos anúncios da Evax é muito mais facilmente absorvido pelos pensos do que sangue pastoso com grumos coagulados) e, no secretismo da parte posterior dos mesmos, alguns troços da tão antecipada linha castanha. A diferença é que não o fiz por simples estupidez. Fi-lo por ser o único dia do ano em que não tenho de andar de piça espartilhada em calças desenhadas para o marro insignificante do comum caucasiano.

Mas calma, não é sobre isto que pretendo dissertar. Aliás, não tem mesmo nada a ver. Queria somente partilhar com o leitor a revelação que tive nesse dia no metropolitano. Enquanto esperava chegar ao meu destino, de tromba penial confortavelmente assente no joelho e distribuindo reprimendas às crianças que com ela queriam brincar, captei um lampejo recriminador no olhar monocular da minha gaita, que espreitava pelo miradouro dos boxers. “Porque me olhas assim, caralhão?”, inquiri-lhe eu telepaticamente. Não obtive resposta. Desviou apenas o olhar para o tecto e assim ficou o resto da manhã, em hirto silêncio, qual estalagmite amuado. Foi somente mais tarde, enquanto me preparava para escrever um post espectacular que ando para publicar há uns tempos, que percebi finalmente o que se passava. Ora, quem tem vindo aqui ao blog sabe que já escrevi sobre muita merda. Enfim, sobre coisas que, penso eu, de um modo ou de outro acabam por ter a ver com a vida de cada um. Mas tendo lido outra vez tudo o que escrevi até agora, fiquei preocupado. Onde está o romance no meio disto tudo? Onde está aquilo que de facto mais importa na vida do leitor que não seja uma mera máquina insensível de bater punhetas? Tenho sempre procurado espremer o rubicundo tomate da criatividade, sim, mas terá o leitor verdadeiramente retirado daí algo de interesse para a sua vida fora da Internet? Esmifrado o fruto priapista, para onde foi, em suma, o sumo?

Quebrando o precedente da literalidade, pus-me então pela primeira vez metaforicamente na pele de uma mulher. Libertei o meu lado feminino da masmorra cerebral de onde saíra até agora apenas para se vestir com as roupagens de celebridades boazonas para fornecer material de consulta à mão que agasalha o nabo e dialogámos longamente, de igual para mulher, sobre a essência do romantismo (nos relacionamentos humanos heterossexuais, claro, que já chega de conversa sobre fufas e paneleiros).

E então, finalmente, percebi tudo. Nesse mesmo momento o caralhão piscou-me o olho, fizemos as pazes e percebi que tinha encontrado o que procurava. Peguei então no meu lado feminino pelos cabelos, dei-lhe um tabefe na cona de baixo para cima, enfiei-o na masmorra outra vez a pão e laranja e vim para aqui de espírito tranquilo. Eis, então, o que descobri.

“E viveram felizes para sempre”, diz o argumentista farto até às últimas de escrever lamechices mais peganhentas que a parte da frente das cuecas de um padre pedófilo (passo o pleonasmo) depois de um baptizado. Contudo, é do conhecimento geral que as coisas não são assim tão simples. E porquê? A verdade é que há um preço elevado a pagar por essa felicidade. Dois, na verdade e, como não podia deixar de ser, ambos impendem sobre o homem.

O primeiro ónus é o valor do anel de ouro com o qual se aluga a cona. Se a cona fosse moeda, quem tivesse uma era o Bill Gates (e, por implicação, o Bill Gates seria pobre). Isto porque por mais dinheiro, joalharia avulsa e valores materiais em geral que lhe atiremos para cima, a cona valerá sempre mais. É por isso que é sempre e apenas alugada, nunca comprada. O anel de ouro, portanto, é uma despesa simbólica do aluguer da cona com a qual o homem estabelece uma relação comercial de prendas em troca de foda, estabilizando em simultâneo a taxa de câmbio de modo a que não haja flutuações absurdas nos valores da bolsa (chamemos assim ao pipi). J.R.R. Tolkien percebeu isto muito bem ao retratar os sofridos tempos de incerteza vividos pelas suas personagens masculinas até conseguirem atirar com um anel de ouro para dentro de um buraco cheio de líquido quente, que mais não é do que uma metáfora da pachacha aberta. Até lá, o dono do anel é sempre Sauron, por sua vez a metáfora do gajo com quem ela te vai pôr os cornos se não lhe atirares com o anel para o pito flamejante - e também como Sauron, o gajo torna-se mais assustador precisamente porque nunca se chega a ver.

Mas eu falei de dois preços que o homem tem de pagar. O anel de ouro é somente o primeiro e até o menos oneroso. O segundo preço a pagar é o do anel de couro, com que a mulher compra o romantismo, e esse é que é fodido. E antes que perguntem, o anel de couro não é mais do que o cu do homem. Passo a explicar.

Dominique Laporte, o falecido psicoanalista francês, escreveu uma obra magistral chamada Histoire de la Merde. Resumidamente, é uma reconstrução da noção de homem pós-moderno a partir do evento fundamental que foi a invenção da latrina. Diz Laporte que a partir do momento em que a merda deixou de voar pela janela com um “água vai” e passou a correr em esgotos onde ninguém a vê (a “domesticação da merda”), o homem sublimou-se e adquiriu a falsa consciência de que é de algum modo divino, ou superior ao animal que convive com o que caga. Ora, a minha teoria é que o ideal romântico a que toda a mulher aspira exige que o homem faça à sua escala o que o Homem fez à escala civilizacional: que domestique o cu.

É um facto antropológico universal que os homens gostam de se peidar e cagar. Laporte fala mesmo dos aborígenes australianos que conversam amenamente enquanto se borram todos na flora local. Mas deixemos os antípodas, fiquemo-nos pelas bebedeiras entre amigos. Que mecanismo de socialização masculina mais eficaz existe que o peido nas goelas abertas de um amigo que se ri à gargalhada do anterior? Ao fazê-lo estou a dizer “eis um peido meu. Não existem dois iguais, não haverá outro como este e mais ninguém senão eu poderia dar este que acabaste de comer. O peido sou eu. Toma(aaaaa)”.

A mulher, por outro lado, odeia o peido e odeia cagar, e mesmo sem admiti-lo combate ambas as funções corporais com todos os subterfúgios que consegue alcançar. Por exemplo, por que razão existe o mito de que as gajas boas não se peidam? É simples: as gajas boas conseguem mais picha que as outras e por isso levam mais no cu. Não é só porque lhes dá gozo, não se enganem. Acima de tudo adoram levar no cu porque, em certo sentido, é o contrário de cagar. Por outro lado, a lassidão resultante do esfíncter anal faz com que os seus peidos saiam sempre de pantufas e nunca mal-cheirosos porque não se acumulam durante horas a fio como acontece connosco. O peido do homem nasce como um bebé num parto normal: com dificuldade, muita força abdominal e aos berros. Do mesmo modo, toda a gente sabe quando um novo chega, sendo em geral recebido com uma alegria imensa. Por outro lado, o peido da mulher (reles bufa), vem nas calmas como um turista a sair de uma catedral: em respeitoso silêncio pela história atribulada do local e apreciando as amplas e majestosas arcadas escancaradas. O homem, então, em vez de perceber que é pela sua própria acção enrabante que as gajas boas parecem não se cagar nem peidar, acha que de facto não o fazem por serem divinas. Para merecer gajas assim (pensa ele) tem também de parar de se cagar e peidar orgulhosamente. Ah, mas se cada cano rectal deixasse estrias únicas nos caralhos como os canos das armas nas balas não haveria falta de provas forenses em como já muita piça saiu ejectada daquelas peidolas “divinas”.

A verdade é que a mulher combate a merda com todas as suas forças. Com perfumes mata o peido, com as flores e enfeites nas casas-de-banho retira a mística do local, com as dietas deixa de comer e assim também de cagar. E o homem, feito parvo, acaba por pensar que quem tem um problema é ele.

Mudemos de cenário: imaginemos agora o recém-casado no seu pequeno apartamento com a sua jovem esposa. Ela está na cozinha e ele com ela a ajudar a descascar os legumes. De repente e sem aviso, dá-lhe uma incontrolável vontade de cagar. “Foda-se”, pensa ele sorrindo para ela enquanto luta com as nalgas contra o poito já com a cabeça de fora, ao mesmo tempo que percebe que nada do que viu nas comédias românticas a que teve de assistir para conseguir comer o cu à namorada lhe poderá ser útil agora. “Querida, estive a beber café portanto vou lavar os dentes”, mente. Ela diz qualquer coisa romântica que ele já não ouve. Sai da cozinha e fecha devagar a porta da casa-de-banho atrás de si, simulando estar calmo. Abre a torneira, finge limpar a rouquidão da garganta e solta o primeiro de cinco ou seis peidos estrondosos de um cu nada rouco, procurando conter o orgulho paternal que lhe cresce no peito logo acima do intestino entupido. De pernas abertas, sentado na sanita, caga-se então como um bárbaro visigodo, gemendo enquanto esfrega a escova nos dentes da frente até fazer sangue a ver se ela ouve. No fim, tira um pedaço de papel higiénico e finge assoar-se enquanto limpa o cu, mas tem de fazê-lo à pressa porque não está constipado e se demorar muito ela pode perceber que não é um nariz congestionado e sim um ensopado de estrume que ele está a tentar limpar. Puxa o autoclismo. Clareando a garganta de novo, puxa-o uma segunda vez, esforçando-se por desentupir o engarrafamento de cagalhões à entrada do cano e as marcas de derrapagem na louça com a ajuda de um piaçaba envolto numa previdente armadura de papel.

Fechando atrás de si a porta do orfanato, dirige-se à cozinha. Azar do caralho: a água que deixara a correr para disfarçar a defecação deu vontade de mijar à mulher. Como gastou o dinheiro todo no anel de ouro não pôde comprar uma casa com duas casas-de-banho portanto ela terá de ir à mesma que ele. Sem saber o que fazer, o jovem recém-casado finge querer foder já ali na cozinha em cima dos legumes, romanticamente. Na tentativa de deixar a mulher excitada e em simultâneo estancar-lhe o mijo, enfia-lhe dois dedos bem fundo na pachacha mas só consegue com isso piorar a situação. “Aiaiai”, diz ela à rasca para mijar enquanto sai a correr disparada de mãos no pipi para a infame divisão onde paira invisível no ar a medonha peste castanha. Num rápido improviso, o jovem marido diz, “querida devemos ter um cano roto qualquer aqui na cozinha, cheira-me a porcariazinha”. Como planeado, e quase tão aliviado como quando se cagou, ouve a mulher responder da casa-de-banho as palavras bêbedas de quem luta contra a inconsciência, que tanto esperava ouvir: “Tens razão, querido, chama o canalizador. Mas olha que o cano roto deve ser da casa-de-banho… Está aqui um cheiro a merda que não se pode”.

Sem me querer alongar mais, concluo. Homens que leiam isto, nada do que façam pode escamotear o facto de que produzem em média 275kg de merda todos os anos. Cada grama dessa pilha vai cheirar bastante mal e nenhum spray vai tornar o pivete mais romântico. Portanto, se quiserem conciliar merda com romance, levem um para ler quando forem cagar. Camaradas machos... da próxima que se virem numa situação de duelo entre a vontade de cagar e o romantismo conjugal lembrem-se apenas disto: em vez de ficarem preocupados com o que pensaria ela se descobrisse que vocês se cagam à fartazana todos os dias, invertam a ordem do pensamento e caguem todos os dias para o que ela pensaria sobre isso. E assim sim, viverão felizes para sempre.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O bom selvagem desempregado


Se os telejornais de Natal fossem bolos-rei (admito que seria estranho mas o blog é meu), as notícias sobre o desemprego seriam o brinde: enquanto saboreamos as notícias sobre o sucesso sem precedentes da loja de roupa da senhora Lucília em Santa Comba Dão, que este ano já vendeu duas blusas (ainda que à mesma pessoa a quem o fornecedor as roubara), e engolimos o fruto cristalizado da reportagem da TVI sobre a nova tarte de maçã da pastelaria do Chico Almiro (que se assoa às mangas da camisa e bate punhetas na farinha), eis que surge a inevitável entrevista à Dona Patrocínia, de súbito e em plena época de consumismo desregrado confrontada com a suprema ironia onomástica de se ver sem apoio financeiro, partindo-nos a cremalheira da boa disposição toda sem aviso, qual característico Santo António de titânio reforçado que surge sempre na primeira dentada da última fatia do bolo-rei e nos fura o Céu da boca como se não aguentasse mais as saudades de casa.

Depois desse pungente relato sobre a injustiça que foi ter sido despedida da fábrica em Beja onde polia rodas de tractor há 40 anos, eis que surge o recém-licenciado em Engenharia Aeroespacial (desempregado) a queixar-se deste Governo (pá) que injecta milhões e milhões em aeroportos e TGV’s mas que se recusa a fornecer bolsas aos jovens para a construção de propulsores termonucleares capazes de acelerar uma estação de observação extraorbital de 5000 toneladas a Mach 30 em 13,25s, de modo a que Portugal pudesse, finalmente, deixar de depender de importações para suprir as suas necessidades mínimas de fotos paneleiras de galáxias e estrelas catrapiscantes. E não contentes com o desabafo ainda continuam, queixando-se de que para ganharem a vida numa área não muito distante dos seus interesses tiveram de ingressar na indústria do brinde de bolo rei, que ao menos utiliza na manufactura o mesmo material dos escudos térmicos do Space Shuttle.

Por fim, vem ao microfone o incontornável trintão que é caixa do Pingo Doce desde que se licenciou há 10 anos, porque Portugal não sabe valorizar o capital humano formado em Estudos Comparados Ibero-Hindus, com teses em Diplomacia Ecuménica Humanístico-Bovina ou sobre a Revolução Industrial na Índia – do Caril ao Carril.

Enfim, notícias destas não deixam de deitar um gajo abaixo, e nos dias antes e depois do Natal fui bombardeado com elas ao jantar quase com a mesma pujança e frequência com que me imaginava a ejacular no cabelo da minha prima boazona sentada do outro lado da mesa na noite da Consoada, por acaso também desempregada (porque quer, pois há sempre lugar para mais uma puta). Foi nesse momento, com a boca cheia de bolo, que eu disse finalmente “há hega”.

Pus-me a pensar no assunto durante longos minutos enquanto cagava (satisfeito por não ter sido eu a engolir o brinde este ano) e eis que entre a bruma pós-digestiva vislumbrei a solução definitiva para o problema do desemprego em Portugal. Puxei o autoclismo as vezes necessárias até convencer o Sebastião a desaparecer na treva gorgolejante do cano e vim para aqui escrever. Gostaria de prolongar esta espécie de prefácio um pouco mais de modo a criar suspense antes de revelar a minha magistral ideia mas como já falei na prima boazona fiquei sem saber bem como fazê-lo. Além disso, a minha resolução do ano novo foi passar a divagar menos. Mesmo porque divagar é gay, ou pelo menos parece-me ser o que diria um paneleiro cabo-verdiano a ser enrabado pela primeira vez. É verdade, ouvi dizer que os paneleiros agora também podem casar. E falando em ouvir, para quem não sabe, o ouvido humano é uma cena do caralho. A minha teoria é que o pessoal que inventou os nomes das partes internas do ouvido estava ressabiado por ter ficado com esse trabalho de merda e pôs-se a inventar as idiotices mais aleatórias que lhes vinham à cabeça. Provavelmente hoje estarão desempregados também.

Bom, onde ia eu? Já disse a piada da prima… Sim, a solução para o desemprego. Encontrei-a. E encontrei-a onde? Não, não foi nas tetas da mãe do leitor, não obstante a busca ter sido longa e minuciosa, mas sim na terra do seu paizinho biológico. Exactamente: no Brasil.

Como toda a gente que já viu televisão num Domingo de manhã sabe, a selva brasileira está infestada de pelintras índios com pratos na beiça que não fazem a ponta de um corno de manhã à noite (excepto, claro, quando enfiam o caralho num). Ora, o que é interessante é que se verifica não só que estes gajos não fazem nada como há leis que velam para que assim seja. Falo, claro, do Estatuto do Índio, revisto há relativamente pouco tempo pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio) para que agora passem a fazer ainda menos.

O que eu proponho, então, é a criação de uma fundação homóloga à FUNAI em Portugal: a FUDERT (Fundação dos Desempregados que se Recusam a Trabalhar), que seria uma espécie de sindicato dedicado a proteger a riqueza histórica e cultural única do desempregado - a versão portuguesa do índio -, promovendo a criação de reservas onde o desempregado poderia viver livre, de acordo com as suas próprias tradições e sempre contando com o apoio e protecção do Estado. Numa fase em que o desemprego só vai é crescer, é sem dúvida um caso a considerar por todo o adulto responsável que não seja adepto do cu com pêlos.

Não é tão rebuscado como parece. Vejam, primeiro, a definição de índio de acordo com o supramencionado Estatuto, no art. 8º, II – ‘Índio, o indivíduo integrante ou proveniente de uma comunidade indígena, com a qual mantém identidade de usos, costumes, tradições e é por seus membros reconhecido como tal’. Alguém pode negar que isto se aplica com total exactidão ao desempregado? Mais, considere-se o ponto III desse mesmo artigo: ‘Organizações Indígenas, as associações ou sociedades civis, sem fins lucrativos, integradas exclusivamente por índios, para defesa dos seus interesses e dos interesses da comunidade indígena’. Bom, a não ser que alguém negue que o desemprego é uma actividade sem fins lucrativos esta definição também cai que nem uma luva. Ou conhecem alguém que tenha ido para desempregado para enriquecer, tendo em vista que fazer broches nas áreas de serviço conta como part-time?

Se Portugal adoptasse um Estatuto do Desempregado em moldes semelhantes acabava-se o problema do desemprego de uma assentada. Ou melhor, deixaria de ser um problema. Voltemos ao Estatuto do Índio, art. 2º - ‘Aos índios, às comunidades e às organizações indígenas se estende a proteção das leis do País, em condições de igualdade com os demais brasileiros, resguardados os usos, costumes e tradições indígenas, bem como as condições peculiares reconhecidas nesta lei’. Substitua-se “brasileiros” por “empregados” e estarão garantidas as condições mínimas de subsistência aos desempregados. Bastaria atribuir-lhes uma espécie de pensão de sobrevivência vitalícia suficiente para manterem os putos num nível de miséria suficientemente elevado para ser considerada exótica. Só assim se poderá salvaguardar a igualdade de direitos deste povo sem interferir com o ócio tradicional da sua cultura.

Mas as vantagens da proposta não se ficam por aqui. Atente-se ao art. 5º - 'A política de proteção e de assistência aos índios e às comunidades indígenas terá como finalidades: VI – promover junto à sociedade brasileira a compreensão, a aceitação e o reconhecimento dos índios e de suas comunidades como grupos etnicamente diferenciados, respeitando suas organizações sociais, usos, costumes, línguas e tradições, seus modos de viver, criar e fazer, seus valores culturais e artísticos e demais formas de expressão’. E com isto acabava-se com a discriminação dos hippies, rastafaris, góticos, motoqueiros tatuados, putas cheias de piercings, gajas com t-shirts do Edward Cullen e pretos fodidos não muito dados a tomar banho. Numa palavra, acabava-se com a ostracização do cronicamente desempregado. Em vez de falta de higiene e de olhos na cara, estes e outros casos passariam a constituir um belíssimo património cultural a preservar. Estou convencido de que a grande luta contra a discriminação do século XXI será a do desempregado contra a tirania laborocrática em que vivemos. Disso tenho a certeza, mesmo porque é a opinião unânime dos desempregados meus conhecidos que, por definição, não podem laborar em erro.

Mais importante ainda, no mesmo artigo, IV – 'garantir aos índios e às comunidades indígenas meios para sua auto-sustentação, respeitadas as suas diferenças culturais; V - assegurar aos índios e às comunidades indígenas a possibilidade de livre escolha dos seus meios de vida e de subsistência'. Tal como a Cristianização dos povos indígenas aquando dos Descobrimentos é hoje vista como havendo sido uma forma de opressão e de aniquilação cultural, assim também o é actualmente a Empregação. Hoje temos técnicos de RH em vez de padres, é certo, e o instrumento da conversão deixou de ser a Bíblia e passou a ser a caderneta de recibos verdes, mas o princípio é o mesmo. Padre ou empregador, batina ou fato e gravata, tanto faz: o poder opressivo do colarinho branco não mudou. O que o Empregador quer fazer hoje ao desempregado, na essência, continua a ser o que faziam os missionários ao índio. Com o novo Estatuto, o desempregado ocioso estaria legalmente protegido contra qualquer tentativa de assimilação colonialista para sempre, e poderia sustentar-se como até aqui sempre sustentou, desde tempos ancestrais: através de subsídios. A verificar-se, isto seria, em dialecto desempregado, "mesmo fixe e quê, bráda".

E onde se situariam as reservas oficiais do desempregado português? Bom, isso também estaria previsto na lei, se a adaptássemos à situação nacional. Voltando ao Estatuto, art. 16º, I – ‘Integram o patrimônio indígena: os direitos originários sobre terras tradicionalmente ocupadas pelos índios e a posse permanente dessas terras e das reservadas’. Ora, as terras tradicionalmente ocupadas pelos desempregados portugueses, como é óbvio, são os centros de emprego e respectivas zonas limítrofes, onde os mancebos vão para se fazerem homens e os anciãos para morrer. Segundo esta lei, portanto, cada centro de emprego tornar-se-ia uma zona demarcada protegida para exclusivo usufruto do luso-desempregado. Isto seria de importância vital porque as planícies dos centros de emprego são dos poucos sítios onde o emprego ainda corre livre em Portugal. Outrora espalhava-se um pouco por todo o território nacional, com uma zona de pasto que se estendia do interior-Norte do País ao próprio Algarve. Porém, com a crescente urbanização, a população de empregos em liberdade foi-se tornando cada vez mais reduzida e os poucos que restaram tornaram-se frágeis e precários. Acresce a isto o facto de que com os grandes empregadores a cometerem falcatruas sistematicamente e a serem presos por isso o emprego diminuiu ainda mais, uma vez que não se reproduz em cativeiro.

Note-se, contudo, que não é intenção do desempregado aniquilar as oportunidades de emprego apropriando-se delas. A caça ao emprego (sendo este actualmente uma espécie em vias de extinção e, por isso, protegida), está sujeita a severas restrições. É por isso importante referir que não é intenção do desempregado exterminar o emprego, que é sagrado na sua cultura, mas apenas caçá-lo de acordo com as suas tradições ancestrais para devolvê-lo de imediato ao seu habitat natural.

Acho que a ideia não é má de todo mas que cada leitor julgue por si próprio. Em todo o caso, lembrem-se: todos nascemos bons e desempregados - é o emprego que nos corrompe. Unidos, conseguiremos salvar o desempregado e o seu modo de vida. Se todos arregaçarmos as mangas e ajudarmos a FUDERT com a máxima força de que cada um de nós for capaz, sem parar nem que corra sangue, talvez haja esperança para que quem não trabalha neste nosso País possa viver sem pressões para abandonar as suas raízes, já bem entranhadas no sofá, logo abaixo das caricas de cerveja, Ruffles de anteontem e brindes de bolo-rei.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Be Your Own Dog

Artistas convidados:
A. Mimura (ilustrações)
Alexandre Von Niagarin (texto)

Why this title for the post? I don’t fucking know. Talvez, apercebendo-se o autor do post de que soara, nessa altura, o sino que reunia os criados, anunciando assim a hora do almoço, não pudesse mais perder tempo com o título do post. Ou porque nós precisamos de instigadores, ou porque nós precisamos daquela espécie de homens tocados pelo fogo e pela aventurança, ou porque certamente nós precisamos de anarquistas. A propósito: Go fuck yourself! God Shave The Queen!

Como tal, a expressão: “to be your own dog” nada diz de concreto, mas significa algo. Algo que, à partida, poderá ser definido em duas vertentes simples: a sádica e a masoquista. Ambas, por estranho que possa parecer, aproximam-se, ou seja, desembocam em clarividência e riso. Num riso ou mais demoníaco ou mais angélico, mas atingindo igual fim e condição. Enquanto metáfora visual, o palhaço serve de ilustração perfeita para elucidação da noção sádica e simultaneamente masoquista de “to be our own dog”; pois o palhaço é a sua forma viva de actuação - expressa masoquismo enquanto tristeza imanente e sadismo enquanto riso destrutivo.

Eu, como ser pio, prefiro a condição sádica, irmã da masoquista, mas deveras mais impediosa, grotesca, bestial e trocista. Eu, deveras que simpatizo mais com o enorme animal vulvo que percorre os bosques urrando, e em cujas veias corre um sangue novo e profético, do que ser o ser élfico e sibilino, atormentado pelo desgosto profundo. Ou seja, “to be your own dog”, significa acordar numa madrugada e farejar a razão deliberada da sua ausência, isto é, significa ser o nó da corda do cabo de enforcamento e simultaneamente o enforcado.

O clarão de espanto que refulge nas vossas pupilas de leitor deve-se ao facto de algures em vós nascer agora a cauda do instinto que se reconhece como senhor de si e não cão de outrem.

Este renascer como fénix não é obra fácil e a muitos está vedada, porque maioritariamente sois cão de outrém por natureza devida e merecida. Mais problemático é quando o horror e maleita atávica grave do sangue luso vos corre nas veias; aí, a tua predestinação para ser um mísero cão de outrem é exponenciada por um número infinitos de órbitas. E a maneira mais fácil de vos libertardes desta infâmia e mostruosidade é dizendo: mata-me, mãe. E originando o acto. Para os outros que estão a salvo do mal primeiro, a predisposição para cão de outrem é altíssima, mas ainda assim com probabilidades de cessação.

E isto como: acossando o teu ser cão da sobrevivência e da submissão com os piores tipos de males até que se torne o cão da insubordinação e da peleja. Esquecei os dias, pois que esta fera pertencerá à noite, se tiverdes vós coragem para tanto... tu, cão reles e submisso, habituado à malga bolorenta e húmida, servida com desdém, porque és cão de outro cão, que cão vassalo igualmente de outrem o é.

Se conseguirdes a primeira metamorfose, que de mais não se trata do que do entendimento existencial disto que vos afirmo, tereis dois caminhos perante a visão da noite onde estais submerso: ou reagirás optando pela condição sádica ou pela masoquista.

Na condição sádica: saberás que serás sempre cão de outrem, mas não obedecerás; serás cruel, invulgar, temerário, perderás amigos, terás cumplices e verás a inteligência como uma doce imbecilidade; devido a esta natureza beligerante deixarás de ter amo, porque tal ferocidade incomoda e repulsa semelhante propósito. Os caninos inclusos da clarividência surgirão numa fase X que te levará ao riso grotesco e assim clarividente.

Na condição masoquista: saberás que serás sempre cão de outrem, mas obedecerás; serás cruel contigo, irás parecer vulgar, não serás temerário ou temido, não terás amigos nem cúmplices, e a inteligência será o único reconforto devido à natureza triste dessa conduta. Terás amo, que te será indiferente, e numa fase X irás rir, expondo propositadamente um sangue negro nas flor dos lábios que é, em certa medida, a textura da clarividência e assim de igual modo o é riso grotesco.

Ou seja, o sentimento masoquista assemelha-se ao ser cão de outrem na proporção de factos mas não na natureza da essência. O sentimento masoquista de ser cão de si próprio é grandemente já o salto de abandono da trela, mas a fase um de duas; a fase dois ou a sádica é mais pérfida e mais venenosa e, como tal, mais difícil de se realizar, mas é a mais triunfante e desejada. No entanto, a fase um é passo necessário e que coloca quem realiza a acção num patamar diferente de ser cão do cão de outrem.

“To be your own dog” tem como descrição possível: ir pela vida fora com sentimentos nus, tropeçando no orgulho da queda, unicamente porque à queda estamos magnetizados, mas abraçamo-la nos momentos mais íntimos, porque o desejamos, sem autorização da própria ou de outrem.

P.S. Para que reporteis o estado em que me encontro, envio-vos uma última nota, assim: no final da leitura, que se avizinha, e que foi perda vossa de tempo e insípido modo de existir, porque a nada verdadeiramente sabe (eu minto-vos escandalosamente e delicio-me com o vosso sofrer, porque não sabeis mais o que pensar), podeis tu, ó cão mísero e sarnento, arrumar as ancas na tua casota de pedra, que vou eu e a graciosa noite a passear...