terça-feira, 24 de novembro de 2009

Ejaculação Inaugural

Ao leitor transeunte,

Quer tenha vindo parar a este blog por lapso enquanto embrenhado numa qualquer pesquisa virtual doentia, quer por outro motivo obscuro que agora também não interessa, imagino que não possa deixar de se sentir ultrajado por se ter encontrado inadvertidamente diante da enorme vergasta que brota do baixo-ventre do indivíduo representado na imagem acima, no estilo típico de uma época em que ainda ninguém desenhava muito bem. Para mais, ainda se viu confrontado com a estupidez aparente que é associar de algum modo o priapismo – essa paradoxal doença de grande gravidade que, simultaneamente, a desafia – à Filosofia – suprema actividade do espírito humano, associada mais à edificação do que à erecção, de tal modo que já não haveria hoje espíritos humanos a edificar se o número de filósofos existentes a qualquer momento da História não se restringisse sempre a uma reduzida percentagem da população, curiosamente comparável à dos que sofrem de priapismo. Portanto, não me sentiria bem nem conseguiria dormir descansado hoje se não explicasse que porra vem a ser esta. Primeiro, um pouco de cultura histórica:

Ensina-nos a Encyclopaedia Britannica que Príapo era um deus da fertilidade animal e vegetal, cujo culto originou no Helesponto (actual Estreito de Dardanelos, na Turquia), tendo-se espalhado a partir daí para o resto do mundo. Não obstante a forma terrena desta peculiar divindade ser humana, era facilmente identificável entre a multidão por ostentar um barrote permanentemente entesado do tamanho de um monovolume de dois lugares. Na versão grega da história, os seus pais eram, como não podia deixar de ser, Dioniso (o deus da bebedeira) e Afrodite (a deusa de fazer o amor). O animal que se costumava sacrificar em sua honra era o burro, e de modo a que fiquem esclarecidos todos aqueles que se questionarem quanto ao motivo por que assim era, cito directamente a Encyclopaedia Britannica: “The ass was sacrificed in his honour […]”.

Segundo, um pouco de cultura científica:

De acordo com a autoridade da revista Caras, o priapismo caracteriza-se por uma dolorosa erecção peniana que se prolonga por mais de 6 horas, e que pode afectar qualquer um, mesmo crianças e anões, sendo nestes dois últimos casos bastante mais grave mas também bastante mais engraçado. Se não for tratado depressa, o priapismo pode degenerar em impotência crónica e, caso persista por mais do que cinco dias, pode mesmo levar à morte ou, pior, à necessidade de se capar o mastro. Nestes casos, o falo amputado costuma ser substituído por uma prótese peniana, após o que o prazer do acto sexual se torna comparável ao de ouvir alguém contar como foi.

Para a mente clarividente que lê estas palavras, então, não poderá deixar de ser revelado em toda a sua magnificência o facto de que a vida não é ela própria mais do que priapismo: dolorosa, potencialmente fatal, mas ao mesmo tempo uma sorte do caraças quando acontece porque calha a poucos e enquanto dura há que aproveitar. Eis aqui encapsulado o fundamento do Priapismo enquanto corrente filosófica, da qual este blog representa a alvorada, acompanhada de respectiva tesão matinal.

Mas que o leitor não se deixe seduzir pela subtileza desta observação existencial. Toda a profundidade e sobriedade cessam aqui. Aliás, estou a tratar-te por “você” desde o início nem sei porquê. A verdade é que serão aqui escritas coisas que irão ofender, coisas desnecessárias e de gosto questionável quando não flagrantemente mau. Raras vezes se lerá aqui alguma coisa de jeito e, nos casos em que tal acontecer, peço apenas que me avisem para que não se repita.

Ora, de modo a que se inaugure desde já a falta de educação, apresento-me no fim. Sou o Filósofo Priapista, ou simplesmente Príapo, o anónimo e bem vestido, que talvez um dia venha a responder ao teu súbito olhar de assombro com um sorriso misterioso, num comboio cheio, se encostares muito o carrinho à praça. Ou talvez não. Seja como for, onde houver uma tesão, desconfia.

5 comentários:

  1. Em que proporção és filósofo e priapista?

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  2. Desproporcional, no que respeita a ambos.

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  3. Meu querido príapo, sem, espero eu, a consequência fisiológica, creio que poderá ir mais fundo, ser mais cruel, mais fálico, mais funesto, mais cínico, no entanto, fez-me rir no decorrer da entrevista. Os meu parabéns.

    P.s.Vá mais fundo, e tenha por azimute o excesso.

    Seu, Alexandre Vladimir Von Niagarin.

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  4. Ora boas deparei-me com o seu blog e tal me deparei-me com espanto o abordar do priapismo. Por acaso fiquei perplexo e desconhecia do significado desta palavra. Agora sei que não sofro desse mal e ainda bem.

    Irei proceder à deslocação regular a este sítio para absorção constante deste grande priapista.

    Um bem haja


    Cumprimentos,
    Pavarotti

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  5. Sempre pensei que as minhas longas erecções se deviam ao facto de praticar Goju-Tântrico. Afinal sou Priarista. Antes isso, o Pavarotti já olhava pra mim de lado nos treinos...
    Shiro

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