quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Boas Entradas


A todos os que sobreviverem à puta da babadeira hoje, o Filósofo Priapista deseja boas entradas. Como no meu caso o prognóstico não parece favorável pareceu-me boa ideia vir aqui num instante escrever isto antes de começar a encharcar-me em vinho carrascão.

Não queria, porém, sair de 2009 sem deixar uma mensagem a todos os desafortunados que não tiveram dinheiro para comer nem para oferecer prendas nesta época festiva, e de quem nunca ninguém se lembra: caros pobres, se estão a ler isto, cancelem a puta da Internet e usem o guito para dar de comer à ninhada esfomeada que fizeram sair da cona saciada de esporra dessa esposa saloia.

Mas não pretendo maçar ninguém com sentimentalismos. Desejo apenas a todos os fiéis leitores que, como eu, acordem amanhã bem dispostos e prontos para enfrentar o novo ano, de pila assada e acabados de contrair SIDA sem saberem bem porquê.

Nota: Aproveito também para informar que o primeiro post d' O Filósofo Priapista para o ano de 2010 será da autoria de dois artistas convidados, ambos grandes amigos aqui do vosso e igualmente detentores de épico pénis. Texto de Alexandre Vladimir Von Niagarin e ilustração por A. Mimura. A postagem está marcada para dia 5 de Janeiro, Terça-Feira. Arranjem espaço na agenda (Entrada: 15 príapos).

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

"Atentadinhos"


Geralmente em público até me porto bem. Posso orgulhar-me de ser um cidadão respeitável e respeitado entre a comunidade ignorante da verdade. Exceptuando os casos em que uma gaja particularmente mamalhuda me aparece à frente com aquele olhar de puta que todos sabemos que lá está apesar de não desviarmos o olhar das mamas para encará-lo, na rua costumo guardar o priapismo dentro das calças e não dizer nada mais ofensivo do que, sei lá, “cocó”, quando efectivamente piso uma poia ninja plantada à beira-estrada, como aconteceu hoje de manhã. Porém, no dia em que soube da notícia do Berlusconi não consegui conter-me. Ao inteirar-me dos factos lendo o meu jornalzinho no café, degustando um doce compalinho e uma crocante torrada hexapartida, soltei uma incontida caralhada à Príapo seguida de um “foda-se esta merda toda” mesmo ali ao lado de uma velha, que apesar de tudo bem mereceu ouvir o que ouviu porque cheirava a cona de cadela sebosa logo de manhã, filha da puta. Exteriormente lá me recompus, esfregando o joelho com um sorriso parvo nas trombas num gesto ensaiado já para quando se dão casos destes, como tivesse dado uma cacetada involuntária na mesa, mas por dentro o palavreado continuou, num imparável crescendo de fúria e originalidade.

E o mesmo deveria ter acontecido a todo o indivíduo civilizado que viu o vídeo do que aconteceu. É que não se pode escamotear o facto de que a focinheira rebentada do primeiro-ministro italiano traz implicações muito mais graves do que a impossibilidade de vir a fazer mais broches e minetes a pré-adolescentes nos próximos meses. Não, aquele trombil ensanguentado é a própria personificação e confirmação da espiral de decadência em que a sociedade ocidental rebola aos trambolhões há mais de um século. É, na verdade, a cabeçada no último degrau antes de batermos todos com os cornos no chão imundo da completa desesperança do homem moderno. Quando algo deste género acontece a um primeiro-ministro de um país europeu nos dias que correm, é preciso dizer que algo não vai bem.

Falo, claro, da imparável marcha em direcção ao apogeu da mariquice que se vem verificando nos atentados a figuras públicas desde que Lincoln levou um balázio nos cornos em 1865, ou assim também o nosso badocha D. Carlos I em 1906. Que diabo está a acontecer ao mundo e como é que permitimos que aconteça? Antigamente, quando era para matar não se brincava. Veja-se o belíssimo exemplo para as nossas crianças que é o perfeccionismo homicida de Yusopov e seus capangas no assassinato de Grigori Rasputin, o grande místico priapista russo, em 1916. Rasputin, segundo consta, tendo ingerido veneno suficiente para matar vários homens, sobreviveu, tendo sido então baleado cinco vezes nas costas por Yusopof, depois espancado por todos os referidos capangas (visto que continuava a pedi-las), primeiro ao soco e ao pontapé e de seguida à paulada, depois castrado, envolto num tapete e atirado ao geladíssimo rio Neva – onde morreu afogado. Isto sim, era um atentado. Não havia cá paneleirices para ninguém.

John F. Kennedy, Gandhi, Malcolm X, Martin Luther King, John Lennon, todos eles se viram livres do sebo que os conspurcava por homicidas que não se importavam com o incómodo que a morte poderia causar aos seus alvos. Fizeram-no de maneira menos inventiva do que no caso de Rasputin, é certo, mas nem por isso menos eficaz. Findos os tempos áureos do assassínio, tornou-se por fim manifesto que a decadência mariquinhas tinha começado o seu avanço inexorável, ironicamente com o caso de um atentado a um homem com nome de menina. Em 1981, no dia de Fátima, Karol Wojtyla, a.k.a. Papa João Paulo II, foi baleado em plena Praça de S. Pedro, mas apesar de ter ficado todo fodido não morreu. Começava a era do atentado de merda. Após considerados os dados da análise balística, “Milagre de Nossa Senhora de Fátima!” foi a explicação lógica que o Sumo Pontífice encontrou para não ter sido chamado ao escritório do Patrão nesse dia. Por acaso ninguém me perguntou mas tenho a minha própria teoria sobre o assunto, e não envolve intervenção nenhuma da Nossa Senhora. Há, isso sim, uma grande semelhança entre o milagre da sobrevivência do Papa e o da Imaculada Concepção: em ambos os casos, o projéctil em questão penetrou na zona do intestino. O problema foi que o agressor na Praça de São Pedro era zarolho e em vez de apontar um pouco abaixo da zona do ridículo chapeuzinho papal, apontou para a santíssima tripa. Resultado: hemorragia e caganeira interna mas nada que exigisse um milagre para lá do alcance das capacidades de uma equipa de cirurgia moderna. Não deixa é de ser curioso que um dos membros da comissão parlamentar envolvida na investigação deste atentado tenha sido o próprio Silvio Berlusconi. A mariquice homicida tem a sua ironia…

Fiquei um pouco mais animado quando deram cabo do canastro a Ytzhak Rabin em ‘95, o enervante judeu, mas foi Sol de pouca dura. Em ‘99 um tanso qualquer falhou na tentativa de reunir George Harrison a John Lennon, e em 2002 Jacques Chirac sobreviveu a uma tentativa de fuzilamento por parte de um puto neonazi míope de tal modo incompetente que o Jacques nem deu por nada. No ano passado, quando eu pensava que as coisas não podiam piorar mais, George Bush desvia-se a rir de um par de sapatos pateticamente arremessado. Nunca disse “caralho” tantas vezes como nesse dia.

Finalmente, ainda este ano, um pouco de esperança: o Presidente da Guiné-bissau, João Bernardo Vieira, é cortado às postas de bacalhau por um gangue qualquer de pretos armados com facalhões de desbastar mato. Parecia que estávamos a voltar aos bons velhos tempos, era desta que íamos voltar a ter mortes de jeito no telejornal.

E depois, a ignomínia total: Silvio Berlusconi, primeiro-ministro italiano, leva com um souvenir na boca… Senti-me genuinamente envergonhado em nome de toda a Humanidade civilizada. Não um revólver, não uma faca, mas uma réplica do Duomo, a paneleira catedral de Milão. Que decadência desde César. Como se terá sentido o italiano médio com esta notícia? Ponham a coisa em perspectiva, imaginem que amanhã percorria o mundo a notícia de que José Sócrates tinha levado com um galo de Barcelos nos dentes. Ou, vá lá, com uma miniatura do Pavilhão Atlântico (ainda que não fosse exactamente o mesmo visto que não tem arestas e comparado ao Duomo fazia era festinhas). Ou que em pleno debate parlamentar o Paulo Portas lhe tinha atirado com um caralhão das Caldas que de algum modo conseguira esconder da segurança à entrada? Sentir-se-iam orgulhosos? Ou, pelo contrário, sentiriam o orgulho a ser enrabado por uma cobra de peluche, fofa por fora mas rija que se farta por dentro, das que se vendem no jardim zoológico?

O que se seguirá a isto, pergunto-me? Estaremos a chegar ao dia em que se considerarão atentados à vida de Tony Carreira as cuecas ensopadas em corrimento vaginal atiradas para o palco por centenas de velhas húmidas, saudosas dos tempos de juventude em que ainda lhes corria sangue do pito sem que para isso tivessem de enfiar um caralho a pilhas até ao útero? Prender-se-á gente no aeroporto por tentativa de insulto à chegada da selecção nacional após a costumeira humilhação no estrangeiro? E se eu me dirigir ao Palácio de Belém com o intuito de usufruir do meu direito constitucionalmente protegido de dar um peido matarruano na boca nunca completamente fechada do Cavaco, serei cercado pelos matacões carecas de óculos de sol e auriculares a pedirem-me para pousar o cu no chão devagar e deitar-me de barriga para baixo com as mãos atrás da cabeça?

Espero bem que esta merda mude porque não aguento mais estes atentados de quem massaja o alvo com óleo de amêndoas na esperança de causar uma reacção alérgica. Que é feito das bombas, dos tiros, das facadas, em suma, dos assassinatos brutais e eficazes de outrora que tanto prazer nos causavam quando anunciávamos publicamente a pena que nos tinham causado, porque, enfim, coitadinhos? Será que já ninguém tem colhões para tirar uma vida à homem? Terei de fazer tudo sozinho? Foda-se.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O Filósofo Priapista vs. O Requerimento é Idiota


Tinha um post espectacular planeado para esta semana. Não estou a brincar, era mesmo uma coisa do outro mundo e até já estava mais ou menos escrito. Tinha de tudo um pouco: acção, suspense, mistério, violência gratuita e penetração contra-natura e contra-vontade. Imaginem, pois, o quão fodido fiquei quando descobri que teria de adiar a publicação do mesmo para data incerta. Tudo por causa de um post (e respectivos comentários, salvo raras excepções) que li recentemente num conhecido blog de enrabadores da 3ª idade da Faculdade de Direito de Lisboa, que dá pelo nome de O Requerimento é Idiota – e que no apelido não deixa dúvidas: enquanto filho intelectual, tem a quem sair. Tentei ignorá-lo e concentrar-me na elaboração do post que tinha planeado sem pensar mais no assunto mas era como estar à rasca para cagar e estar alguém sentado de pau feito na única sanita disponível. Na situação em que me encontrava, como na desta brilhante metáfora, não haveria como contornar o problema – seria necessário desviar primeiro o empecilho do caminho antes de me sentar, não fosse o ingénuo cocó deixar-se enganar e seguir pelo caminho errado para onde apontava o pénis intruso, esfíncter acima, até chegar ao cérebro, onde encontraria a memória da merda do post que li, o que poderia causar que eu, intoxicado pelo cheiro metafórico e literal resultante deste encontro, viesse a concordar com as copro-opiniões das mentes jurídicas que acharam por bem alvitrar sobre o assunto. Uma vez que não posso permitir que tal aconteça, não tenho como escapar. Eu, Príapo, ardina do mau gosto, arauto do que ninguém quer ouvir, a jusante do ordinário e a montante da tua mãe, que já expus doutrina sobre comer abortos e pontifiquei sobre formas de espancar mulheres impunemente, vejo-me hoje forçado a descer a níveis nunca antes vistos, qual Dante sem Virgílio, até às profundezas abjectas da mediocridade dos nossos futuros advogados e juízes, onde cessam toda a Razão e Digestão. Pois bem, se assim ordena o Destino, não vacilarei. Cá vai alho.

Versa o tal post sobre a notícia do Público do iminente julgamento do ex-guarda das SS, John Demjanjuk, de 89 anos, suspeito de ter passado por perto de uma câmara de gás onde foram exterminados 27.900 judeus sem parar nem chamar uma ambulância. Para os que não sabem, este julgamento representa mais uma vitória do projecto “Operation: Last Chance”, em torno do qual se juntam vários governos e que tem como objectivo fazer a folha a criminosos de guerra nazis que por piada divina ainda respiram (se bem que na maioria dos casos por um tubo). Ora, argumentam o bloguista e a maioria dos comentadores que é uma estupidez julgar-se um velho decrépito que se 'baba e mija, num estado tão débil que tem que ir de cadeira de rodas e maca para o tribunal'. De facto, que coração de pedra pode ficar impávido perante a pungente história de um genocida de tal modo doente que tem de ser transportado numa maca de cadeira de rodas e tudo? Mas o argumento da velhice é apenas um. Existem outros, ainda que na sua construção dignos do próprio nazi considerado demasiado senil para ser julgado.

O autor do post chega ao ponto de dizer esta maravilha: 'Se tanto a América e a Rússia fecharam os olhos ao absorver cientistas e know-how tecnológico do Reich, se se fechou os olhos à questão ética envolvendo o uso de estudos médicos nazis que vitimaram centenas de pessoas, porque é que não deixam simplesmente esta pessoa, que nada mais é que um débil velhinho às portas da morte, morrer sem ser um centro de atenções mediático?'. Ou seja, traduzido, o que este gajo está a dizer é que se fez tanta merda no tempo dos nazis que não vale a pena parar agora, quando já lhe estamos a apanhar o jeito. Mas repita-se, é só 'um débil velhinho', deixem-no lá ver as novelas e dormir em paz, coitado. De qualquer modo está na altura dos judeus pararem de ser queixinhas, 'já passou mais de 50 anos, não podem ser vítimas para sempre'. Esta última frase então deixou-me completamente biruta… Será possível que nos dias que correm um estudante universitário, ainda por cima de Direito, com a exuberância quase tropical de livros e ensaios publicados sobre o Holocausto e a ferida aberta que deixou na comunidade judaica, não veja que os verbos em Português concordam com o núcleo do sujeito em número e pessoa, e que a forma correcta é “passaram mais de 50 anos?”

Outro diz 'o que está a ser julgado não é o mesmo que cometeu os crimes'. Este incisivo argumento filosófico pelo qual é posta em causa a própria natureza da identidade por acaso até dá que pensar, mas falha na medida em que se formos ver fotografias do gajo quando era mais novo e subtrairmos as rugas veremos que de facto não há dúvida, era mesmo ele que lá andava a azucrinar a vidas aos meninos judeus, a meter-lhes cianeto na sanduíche de mortadela e a roubar-lhes os dentes de ouro no recreio quando o senhor ditador não estava a ver, como o bom malandro que era. Também coitadinho, era puto, sabia lá se era lícito ou não... Nestas coisas ninguém nasce ensinado. Todos os meninos da idade dele fumavam e exterminavam, ele tinha medo que não brincassem mais com ele se não fizesse o mesmo. De qualquer modo os cigarros e judeus fumados já ninguém lhe tira, mais vale deixar de bater no velhinho. Não é? Cambada de atrasados mentais, fazem-me ter pena de não haver óculos para a miopia moral. Levava-vos já à Multiópticas, comprava-vos uns bifocais com armação em massa e enfiava-vo-los pelo cu adentro. Eu sei, eu sei, armações em massa são caras... Mas não se preocupem. Na Multiópticas, como pelos vistos na FDL, o desconto é igual à idade.

Não vou percorrer os argumentos todos que foram apresentados, são ridículos demais para serem levados a sério. Faço apenas uma pergunta: e se em vez de um velho de 89 anos com um apelido impossível de pronunciar fosse um de 120 com um mais familiar, como Hitler? Se estivesse vivo, valeria a pena julgá-lo, correndo o risco de se estar a julgar apenas um simpático avôzinho de curioso bigode? Em jeito de exercício experimentem lá dizer que não, só por piada, para ver qual é a sensação. E depois digam-me em que é que esse caso difere do de ex-SS.

Talvez me digam que o argumento falha por haver uma diferença fundamental: os oficiais nazis – pelo menos alguns – não tinham escolha senão cometerem os crimes que cometeram precisamente por medo de Hitler e do regime que ele encabeçava, no qual a desobediência podia implicar a morte. Pois bem, é possível que assim seja, mas sobreviver à custa das vidas de dezenas de milhares de pessoas implica a contracção de uma dívida para com a Humanidade – e aqui sente-se o cheiro a ironia do destino porque a Humanidade, no que respeita a dívidas, é pior que um agiota judeu. Enquanto os que foram mortos continuarem mortos a dívida mantém-se, independentemente do criminoso ter 90 anos, 100 anos, cancro, SIDA, lúpus, diarreia, acne, cólicas renais, herpes genital, aftas crónicas ou brotoeja no cu. Será que não percebem mesmo? Não é só pelas vidas que contribuiu para ceifar que este gajo tem de pagar, seus tansos. Está em dívida também por todos os dias que viveu livre desde então, pagos com os de milhares de outros que nunca vieram a ser e sem os quais não teria chegado a ser o velhinho amoroso que é hoje. E acima de tudo, para que uma mácula indelével identifique enquanto houver memória o nome de todos aqueles que a dada altura chamaram alguém pelo número. A vossa ideia, suponho, seria mandar a malta nazi toda para uma espécie de lar do 3º Reich (qualquer coisa deste género, com todas as condições e dignidade), onde os ex-guardas de Auschwitz, incontinentes e senis, poderiam viver o resto das suas vidas embrulhados num xaile vermelho a ver repetições do Allô, Allô de mau humor. Pois é, não me parece que vá acontecer. Para a maioria das pessoas, felizmente, "genocida" ainda tem predominância sobre "geronte".

Dizem-me que já não faz sentido julgá-lo porque o crime foi há 60 anos. Enganam-se, energúmenos estudantes de Direito, é muito mais recente do que isso. O crime aconteceu hoje de manhã, quando ele acordou impune uma vez mais.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Abortos aos Pontapés


Ontem à tarde, enquanto beberricava uma cerveja numa tasca, o amigo de longa data que me acompanhava nas libações impugnou o bom senso da minha mãe por não ter optado pela via do aborto quando ainda ia a tempo, no contexto de eu ter dito que a mãe dele tinha ar de quem gostava de levar na peida e perguntado se levaria a mal que eu a comesse, aviando-lhe uma canzanada à bruta naquelas nalgas maduras num dia em que ele não estivesse lá em casa (por uma questão de respeito). O cabrão não gostou e passou-se, argumentando e gesticulando vigorosamente, ainda que, na tentativa de salvaguardar o bom-nome da sua mãezinha, tenha conseguido exactamente o oposto, deixando demonstrada sem sombra de dúvida a índole daquela que o pariu e para a qual o remeti com a maior urgência.

Decidi voltar a pé para casa, gozando da brisa que corria já que não podia gozar da boleia que me levara ao café. Enquanto caminhava, revendo mentalmente a peculiar sucessão de eventos anterior e galando a ocasional mamalhuda que passava, ocorreu-me um pensamento que não me abandonou desde então. O primeiro impulso do amigo leitor será, com toda a probabilidade, o de considerar que o meu devaneio mental incidia sobre uma qualquer vulgaridade brejeira a ver com esfodaçar pipis virginais de escasso felpo até fazer variz. Pois bem, equivocar-se-ia. O que me ocupava o espírito era, na verdade, a controversa questão da interrupção voluntária da gravidez e respectivas implicações éticas, despoletada pela alusão ao aborto feita na supramencionada conversa. O amigo leitor que tirou tais conclusões precipitadas é, como vê, estúpido, e se não tiver uma mãe boazona nem amigo é. É só leitor que se fode.

Bom, para ser honesto, não é inteiramente verdade que tenha sido apenas a alusão ao aborto que me pôs a pensar. A referência que fiz a comer a mãe do ex-amigo cabrão também teve algo a ver com a manipulação de conceitos que operei em torno da questão. Mas não saltarei de chofre para o fim, tal como não o faria para cima da mãe do amigo leitor. Primeiro, clarifiquem-se alguns pontos do que está em causa.

Por motivos de conveniência consideremos apenas o microcosmos de Portugal. Diz o art. 142º nº1 al. e) do Código Penal que a interrupção da gravidez, sob as devidas condições médicas, não é punível se “for realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas de gravidez”. A primeira coisa a perguntar, claro, é se isto não equivalerá a matar um puto, e é aqui que os juristas fazem alguns dos seus mais engraçados malabarismos. Por exemplo, diz o Juiz Conselheiro Benjamim Rodrigues no acórdão do Tribunal Constitucional sobre este assunto: ‘Tal princípio constitucional [inviolabilidade da vida humana] não demanda que a protecção plena da vida humana tenha de ser idêntica, em intensidade, em todo o continuum da vida e em todas as circunstâncias de facto’. O que isto quer dizer, portanto, é que às 9 semanas aquilo ainda não é beeem, beeem uma vida humana. É quase, e como a mãe é um ser humano por inteiro, o menino não tem querer e se se portar mal vai para o lixo sem jantar. Ora, é aqui que se torna necessário intervir o bom filósofo priapista, pois o insigne Dr. Benjamim parece esquecer-se de que se tivesse saído pelo buraco uns centímetros mais ao lado teria nascido com todas as características de um belo cagalhão. É a diferença que faz um “quase”.

Muito bem, acabou o preâmbulo. A questão em que tenho pensado, então, é a seguinte: se, de facto, um feto com menos de 10 semanas não é realmente ainda vida humana plena (o que quer que isso queira dizer), serei canibal se comer um aborto? “Aii, credo, que nojo”, dirão os mais mariquinhas de entre vós. Mas se tirarem o vibrador do cu e se sentarem, meditando nisto com calma, verão que a pergunta até tem razão de ser. Em primeiro lugar, o canibalismo, tal como a vida humana, não admite graus. Ou se come gente ou não. Portanto, se eu comer um “quase humano”, isso fará de mim “quase canibal”, o que em ambos os casos ainda não chega para sê-lo. Para que se perceba bem do que estamos a falar, veja-se primeiro o que é um feto humano com 9 semanas. É fofo mas realmente não se parece muito com uma pessoa. O que é, então, um aborto desta idade? Bom, suponho que terá o mesmo estatuto que o porco ou o frango. Afinal, não sendo alguém, é só carne. E só mesmo provando para saber mas é possível conjecturar que esventrando uma quantidade suficiente seria até possível fazer-se uma bela tachada de Tripas à Moda do Aborto (se tivéssemos suficientes, claro, nessa idade medem só 4 centímetros).

Ou será peixe? Neste estádio de ontogénese o feto tem ainda muitas características dos seus antepassados aquáticos, se calhar é peixe. Mais: tal como a pescada, o aborto recebe o nome daquilo que se lhe faz. Além de que, nessa idade, a coluna vertebral ainda nem é rija. Dobrando a espinha a algumas dezenas deles até se servia uma petiscada à séria de abortinhos de rabo na boca. Olha, lá está… “espinha”.

O que sei é que com tanta gente a morrer à fome é um crime desperdiçar-se a quantidade enorme de comidinha da boa que se raspa dos úteros portugueses todos os anos. Muita barriga se podia encher com o que se tira de outras. Só em 2008 fizeram-se 17.000 abortos voluntários no nosso País. Ora, estive a fazer as contas e se forem precisos quatro abortos de 9 semanas para se fazer 1cm de chouriço, e cada chouriço medir um príapo (30cm), só em 2008 ter-se-iam feito 142 chouriços de primeira. Pensem na quantidade de pobres que se teria alimentado com tanta chicha. Ou serão os pobres ainda menos humanos do que os quase humanos abortados?

Compreende-se que a ideia repugne, só houve um caso de canibalismo registado em Portugal e o esfomeado era ucraniano. Mas há pelo menos uma tribo que o pratica ainda hoje, não estaríamos a reavivar nenhum costume ultrapassado. E, repito, um aborto não é um ser humano. É carne. Ou peixe. O que é certo é que criação da aborte cuisine devolveria ao arroz de miúdos a dignidade que lhe foi sonegada pelas piadas do Michael Jackson e do Carlos Cruz. Só por isso valeria a pena. Agora, se depois de tudo isto a ideia de comer um aborto ainda repugnar, isso só pode querer dizer que quem o fizer é, de facto, canibal, sendo um aborto de 9 semanas, logo, um humano de pleno direito. O corolário é que quem aborta é um pouco mais do que quase assassina. Isto não quer dizer que eu seja contra o aborto, note-se! As assassinas, como todos sabem, são boas que se fartam, como a Sareena do Mortal Kombat, que ainda vai rendendo umas boas punhetas.

Eis, no fundo, o que se quer dizer:

Legisladores, não atirem areia para os olhos… se querem defender a opção do aborto não o façam no enquadramento místico e eufemístico de uma “liberalização do aborto”, em que a vida humana o é sem o ser e se mata sem se matar, mas como mais uma “exclusão de ilicitude do homicídio”, a acrescer à legítima defesa. Isso é que era à homem. É homicídio mas não faz mal. Também ninguém vai sentir a falta de um puto de 4cm que dá mais ares à pastilha elástica que a mãe masca na esquina do que à mãe propriamente dita.

E finalmente, gajas, não atirem sémen para a cona... se não gostam da ideia de matarem um puto passem a agasalhar o tarolo antes de o enfiarem na vulva ou, em alternativa, dobrem-se para a frente, mordam qualquer coisa e preparem a peidola para a futura hemorróida. Porque neste caso posso garantir-vos: o que aí vem não é peixe.

[Os meus agradecimentos aos dois carolas do blog O Legislador Ordinário pelo priapismo que demonstraram ao facultarem-me a sabedoria jurídica básica sem a qual este post nojento não teria sido possível]

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Correio d'Amanhã - Príapo faz serviço público


Não são raras as vezes em que ouço dizer “Príapo, és um bardajão, um sabujo, e não dizes nada que se aproveite nessa merda de blog”. Como podem imaginar, ao ouvir tais palavras é-me impossível não ficar logo todo inchado, como convém ao verdadeiro priapista. Contudo, não é de modo algum verdade que não passo de um javardola sem causa ou que não tenho preocupações de espécie nenhuma, e quem o afirmar só pode descender de uma puta seropositiva de cona arregaçada. São vários os flagelos deste País que me ralam, alguns mesmo ao ponto de fazerem, por vezes, com que o perene ângulo agudo formado onde o meu marro se une ao meu ventre se aproxime perigosamente da perpendicular. Não é, portanto, um coração de pedra que me irriga a pila de sangue aos litros.

Um desses problemas em particular tem a ver com uma lacuna que já persiste há tempo demais no nosso serviço nacional de Correios. Hoje disse "Basta!". Cansado de ver Portugal privado desta forma fundamental de correspondência, resolvi deitar a mão ociosa à obra e escrevi aos CTT, expondo-lhes a ideia directamente. Eis aqui, priapis verbis, o email enviado:

'Exmos Srs.,

Venho por este meio oferecer uma sugestão para uma possível expansão do âmbito dos serviços prestados por V. Exas., de modo a colmatar uma falha nos mesmos que julgo ser de alguma gravidade. A ideia que proponho não é de modo algum original, sendo já praticada há largos anos nos Estados Unidos. Passo então a expô-la para V. consideração:

Em primeiro lugar, é necessário que louve a excelente qualidade dos serviços prestados pela ilustre instituição que são os CTT, dos quais faço uso amiúde, escrevendo para amigos e familiares um pouco por todo o mundo. Porém (e posso asseverar que vários outros partilham desta opinião), não deixa de ser constrangedor haver regiões para as quais se está terminantemente proibido de escrever sem que para isso os CTT ofereçam a menor justificação. Falo especificamente da região do Além, vulgo Reino dos Mortos. Neste ponto, tenho de fazer um apelo para que não tomem esta mensagem como uma brincadeira e que mantenham um espírito aberto.

A sugestão que ofereço vem nos moldes de um serviço já praticado alhures e cuja morada virtual convido V. Exas. a visitar - Afterlife Telegrams.

Este serviço, como podem ver, oferece a possibilidade de se enviarem telegramas a familiares e amigos já falecidos, pedindo-se a indivíduos com doenças terminais que memorizem as mensagens que os clientes desejam enviar e que as entreguem aos destinatários no Além após exalado o seu derradeiro fôlego (por uma quantia que pode ser considerada módica dada a distância que a correspondência tem de viajar). Uma vez que este serviço não está disponível em língua portuguesa, e como não se pode esperar que doentes terminais anglófonos memorizem mensagens num idioma que não só desconhecem como não estão em condições de aprender - por força da própria condição limitadora em que se encontram -, penso que este seria sem dúvida um campo que exige exploração, não só para vantagem dos CTT como do País. Há sem dúvida mercado para a correspondência transcendente, e apelo aos corações dos próprios que lêem estas palavras para que considerem aqueles que amaram e que já faleceram. Não gostariam também de lhes poderem dizer o que ficou por dizer em vida?

Aguardo a V. resposta com entusiasmo e sincera esperança de que será enviada antes de eu próprio me encontrar nessas regiões que o V. serviço ainda não abrange.

Com os melhores cumprimentos, subscrevo-me,

Príapo da Silva e Santos da Costa'
--

Pareceu-me um pseudónimo respeitável. Seja como for, fica demonstrado que também eu me preocupo em andar com este País para a frente. Porque O Filósofo Priapista não é só chavascal - é serviço público.

E claro, se os CTT tiverem tomates para me agraciarem com uma resposta, será postada aqui.