quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

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Hoje enquanto cagava tive uma experiência mística. De nalguedo acoplado à goela da sanita na pose do culturista que exibe o peitoral, murmurando promessas vãs ao Altíssimo entrecortadas por “ais que se me rebenta a ilharga”, conjurei a melhor diplomacia de diafragma que me era autorizada pelos limites do aneurisma na tentativa de persuadir a sair o pusilânime cagalhão que ora ameaçava o mergulho, pondo de fora a cabeçorra e espreitando desconfiado para a piscina de lágrimas, sangue e mijo logo abaixo, ora arrepiava caminho, temeroso, nadando em contra-corrente de regresso à companhia da família no quentinho da tripa, sem dúvida por resultar de um almoço de salmão na grelha. Foi já após ter logrado disparar o torpedo de esterco – o que fiz apenas a poder do fluxo ejector produzido na antecâmara do recto por um peido que em decibéis encontraria par apenas no estouro de um petardo num poço de elevador –, que ouvi então, para lá do zumbido nos ouvidos e da desafinada orquestra de alarmes de carro na rua, o doce murmúrio das musas da foda a incumbir-me uma missão. “Príapo”, disseram-me as pequenas entidades em tom fanhoso, adejando em redor da minha glande de mamas descobertas e nariz tapado, semelhantes a traças boazonas circundando um holofote de 500W, “transmitirás ao teu leitor a imortal sabedoria fodosófica que hás granjeado”.

Ainda tentei aproximar a mão devagarinho para não assustá-las mas desapareceram antes que pudesse sequer começar a punheta. Percorri a brumosa atmosfera com o olhar para confirmar. Não havia sinal delas. Apenas armários, um espelho, alguns frascos, uma sanita e, a boiar lá dentro, o que aparentava ser um rebite de porta-aviões. Ao contrário deste último no seu trajecto descendente pelo vale da louça, as musas haviam desaparecido sem deixar rasto.

Intrigado, gastei um rolo e meio de papel a limpar o unto da bilha, juntei tudo em espiral à volta da poia, tirei uma fotografia com o telemóvel para a colecção e saí da casa-de-banho sem puxar o autoclismo, não só porque aquilo era escultura para valer dinheiro mas também porque depois da experiência que acabara de viver não queria correr o risco de ofender as Tágides endereçando-lhes tão ímpia encomenda. “Terei alucinado?”, pensei. Teria eu sido vítima de intoxicação alimentar pós-digestiva? Ou teria realmente recebido a auspiciosa visita das miríficas criaturas, detentoras das maiores mamas mais pequenas que já vi? Despedi-me da minha avó e saí do lar, imerso em elucubrações metafísicas e mitológicas ao longo de todo o caminho de regresso a casa.

Ao cabo de longos minutos de séria excogitação enquanto esgarçava a maçaroca a ver A Lista de Schindler (por algum motivo filmes sobre o Holocausto dão-me tesão, provavelmente por ter sido uma altura em que muita gente se fodeu), convenci-me da legitimidade da visão que tive. Em primeiro lugar porque a ter sido produto de fabulação alucinogénica, o meu subconsciente não me teria feito a desfeita de suspendê-la sem que antes tivesse explodido com uma musa ou duas pelo menos, vindo-me nas suas coninhas de periquito. E em segundo, porque se a cada episódio de WC em que cagasse rico em consistência e odor fosse visitado por criaturas mágicas do reino da fantasia já teria uma colecção de doutoramentos honoris causa em Mitologia Clássica e o meu próprio programa religioso extorque-velhas na rádio Miramar. Que ninguém duvide, portanto, do meu estatuto de ditoso entre o comprovadamente existente mundo das fábulas.

Não ousando eu falhar na missão divina que me cumpre doravante desempenhar, anuncio ao leitor sem mais delongas a criação de uma nova rubrica n’O Filósofo Priapista, que designarei de Priaprisma Fodosófico. Atenção: não confundir com os prismas apanascados de que se fala em Óptica e cristalogia, que refractem a luz, decompondo-a nas bonitas cores que formam arco-íris. O Priaprisma funciona exactamente ao contrário, como se quer perante tal mariquice arromba-nalgas. Como o aspirador leitor saberá melhor do que eu, o elenco de cores do arco-íris que entra no Priaprisma pela direita na imagem acima é a mesma trupe que compõe a bandeira do orgulho gay. Por esse motivo, o calícromo jacto de luz simbolizará aqui a incipiente sabedoria da foda (se tal se lhe puder chamar) amealhada a custo na vida parca de experiência do desditoso leitor.

Não há que preocupar nem ter vergonha por tão deprimente ignorância da sua parte na filosofia das ars amandi, acalme-se quem estiver desse lado. Lá porque a sua aprendizagem dos mistérios da foda heterossexual terminou com o último episódio do Era Uma Vez a Vida não quer dizer que esteja por isso impreparado para o nível de licenciatura em que agora ingressa. Não obstante, tenho a avisar que a matéria a leccionar será inteiramente nova. Assim, como eu dizia, a paneleirice do leitor entrará como um amaricado arco-íris no Priaprisma Fodosófico e sairá do outro lado sob a forma de um jacto de luz unificado, branco, puro e viril, qual impetuosa meitadela nos óculos de uma colegial borbulhosa. Verificará o leitor que a cada pérola de sabedoria fodosófica por si angariada corresponderá um passo em frente na via que conduz à omnisciência da essência do amor. Porque na linguagem do amor, a foder é que a gente se entende.

O primeiro número desta rubrica sairá em breve. Até lá, boas punhetas. Cuidadinho é com a tendinite que isso depois é um problema.

4 comentários:

  1. Anseio loucamente por esta nova rúbrica caro Príapo.
    Mais, admito que alimento uma pequena esperança de que o primeiro número da rúbrica inclua a tal foto que tiraste do teu esplendoroso PALOP.

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  2. Sugiro que a mitica fotografia seja leiloada?

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  3. Sagrado Príapo,permite-me que te mande um berro: TÁGIDES??Que autêntica difamação aos fragmentos ossais da ilustre pila do Camões vem a ser esta?hã?Fodágides é o que é!
    Mas acima de toda e qualquer coisa,compreendo agora o porquê da brisa de merdesia que se faz sentir nos lares e nem mesmo centenas de velhos a cagarem-se em coreografia sincronizada tinham tido tão elucidativa função como este post.
    Para que saibas,fiquei muito contente por saber da nova rubrica e desejosa de ler o primeiro número enquanto farei delicadas trancinhas na minha vasta farfalheira dos braços.
    Quanto à punheta,acabei de bater uma e saiu-me um jacto da Duracel e uma tampa com purpurinas.

    Damamemoanónima

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  4. Inauguração feita. E desculpem lá não ter postado a tão ansiada fotografia mas infelizmente o limite do blogspot para uploads é 100Mb.

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