terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A essência do romantismo


Como todos devem certamente saber, no passado dia 10 o povo português voltou a observar duas das suas mais ilustres tradições: a de nutrir o bucho desinspirado com ideias regurgitadas da águia americana, e a de ir para o Metro sem calças. Apesar de pessoalmente, no que toca às ideias assim como às gajas, apreciar muito mais quando sou o primeiro a chegar lá, tenho de admitir que me juntei à carneirada e fui também para o subterrâneo gelar a colhoada à pinguim, de fato e sem calças, rodeado de outros tantos viajantes de boxers e cuecas, na face anterior dos quais o passageiro desinformado podia consultar de modo bastante útil representações artísticas da linha amarela (no caso dos passageiros que não tiveram tempo de esperar que a tesão matinal passasse antes de mijar), vermelha (no caso das gajas que não aprenderam ainda que o líquido azul dos anúncios da Evax é muito mais facilmente absorvido pelos pensos do que sangue pastoso com grumos coagulados) e, no secretismo da parte posterior dos mesmos, alguns troços da tão antecipada linha castanha. A diferença é que não o fiz por simples estupidez. Fi-lo por ser o único dia do ano em que não tenho de andar de piça espartilhada em calças desenhadas para o marro insignificante do comum caucasiano.

Mas calma, não é sobre isto que pretendo dissertar. Aliás, não tem mesmo nada a ver. Queria somente partilhar com o leitor a revelação que tive nesse dia no metropolitano. Enquanto esperava chegar ao meu destino, de tromba penial confortavelmente assente no joelho e distribuindo reprimendas às crianças que com ela queriam brincar, captei um lampejo recriminador no olhar monocular da minha gaita, que espreitava pelo miradouro dos boxers. “Porque me olhas assim, caralhão?”, inquiri-lhe eu telepaticamente. Não obtive resposta. Desviou apenas o olhar para o tecto e assim ficou o resto da manhã, em hirto silêncio, qual estalagmite amuado. Foi somente mais tarde, enquanto me preparava para escrever um post espectacular que ando para publicar há uns tempos, que percebi finalmente o que se passava. Ora, quem tem vindo aqui ao blog sabe que já escrevi sobre muita merda. Enfim, sobre coisas que, penso eu, de um modo ou de outro acabam por ter a ver com a vida de cada um. Mas tendo lido outra vez tudo o que escrevi até agora, fiquei preocupado. Onde está o romance no meio disto tudo? Onde está aquilo que de facto mais importa na vida do leitor que não seja uma mera máquina insensível de bater punhetas? Tenho sempre procurado espremer o rubicundo tomate da criatividade, sim, mas terá o leitor verdadeiramente retirado daí algo de interesse para a sua vida fora da Internet? Esmifrado o fruto priapista, para onde foi, em suma, o sumo?

Quebrando o precedente da literalidade, pus-me então pela primeira vez metaforicamente na pele de uma mulher. Libertei o meu lado feminino da masmorra cerebral de onde saíra até agora apenas para se vestir com as roupagens de celebridades boazonas para fornecer material de consulta à mão que agasalha o nabo e dialogámos longamente, de igual para mulher, sobre a essência do romantismo (nos relacionamentos humanos heterossexuais, claro, que já chega de conversa sobre fufas e paneleiros).

E então, finalmente, percebi tudo. Nesse mesmo momento o caralhão piscou-me o olho, fizemos as pazes e percebi que tinha encontrado o que procurava. Peguei então no meu lado feminino pelos cabelos, dei-lhe um tabefe na cona de baixo para cima, enfiei-o na masmorra outra vez a pão e laranja e vim para aqui de espírito tranquilo. Eis, então, o que descobri.

“E viveram felizes para sempre”, diz o argumentista farto até às últimas de escrever lamechices mais peganhentas que a parte da frente das cuecas de um padre pedófilo (passo o pleonasmo) depois de um baptizado. Contudo, é do conhecimento geral que as coisas não são assim tão simples. E porquê? A verdade é que há um preço elevado a pagar por essa felicidade. Dois, na verdade e, como não podia deixar de ser, ambos impendem sobre o homem.

O primeiro ónus é o valor do anel de ouro com o qual se aluga a cona. Se a cona fosse moeda, quem tivesse uma era o Bill Gates (e, por implicação, o Bill Gates seria pobre). Isto porque por mais dinheiro, joalharia avulsa e valores materiais em geral que lhe atiremos para cima, a cona valerá sempre mais. É por isso que é sempre e apenas alugada, nunca comprada. O anel de ouro, portanto, é uma despesa simbólica do aluguer da cona com a qual o homem estabelece uma relação comercial de prendas em troca de foda, estabilizando em simultâneo a taxa de câmbio de modo a que não haja flutuações absurdas nos valores da bolsa (chamemos assim ao pipi). J.R.R. Tolkien percebeu isto muito bem ao retratar os sofridos tempos de incerteza vividos pelas suas personagens masculinas até conseguirem atirar com um anel de ouro para dentro de um buraco cheio de líquido quente, que mais não é do que uma metáfora da pachacha aberta. Até lá, o dono do anel é sempre Sauron, por sua vez a metáfora do gajo com quem ela te vai pôr os cornos se não lhe atirares com o anel para o pito flamejante - e também como Sauron, o gajo torna-se mais assustador precisamente porque nunca se chega a ver.

Mas eu falei de dois preços que o homem tem de pagar. O anel de ouro é somente o primeiro e até o menos oneroso. O segundo preço a pagar é o do anel de couro, com que a mulher compra o romantismo, e esse é que é fodido. E antes que perguntem, o anel de couro não é mais do que o cu do homem. Passo a explicar.

Dominique Laporte, o falecido psicoanalista francês, escreveu uma obra magistral chamada Histoire de la Merde. Resumidamente, é uma reconstrução da noção de homem pós-moderno a partir do evento fundamental que foi a invenção da latrina. Diz Laporte que a partir do momento em que a merda deixou de voar pela janela com um “água vai” e passou a correr em esgotos onde ninguém a vê (a “domesticação da merda”), o homem sublimou-se e adquiriu a falsa consciência de que é de algum modo divino, ou superior ao animal que convive com o que caga. Ora, a minha teoria é que o ideal romântico a que toda a mulher aspira exige que o homem faça à sua escala o que o Homem fez à escala civilizacional: que domestique o cu.

É um facto antropológico universal que os homens gostam de se peidar e cagar. Laporte fala mesmo dos aborígenes australianos que conversam amenamente enquanto se borram todos na flora local. Mas deixemos os antípodas, fiquemo-nos pelas bebedeiras entre amigos. Que mecanismo de socialização masculina mais eficaz existe que o peido nas goelas abertas de um amigo que se ri à gargalhada do anterior? Ao fazê-lo estou a dizer “eis um peido meu. Não existem dois iguais, não haverá outro como este e mais ninguém senão eu poderia dar este que acabaste de comer. O peido sou eu. Toma(aaaaa)”.

A mulher, por outro lado, odeia o peido e odeia cagar, e mesmo sem admiti-lo combate ambas as funções corporais com todos os subterfúgios que consegue alcançar. Por exemplo, por que razão existe o mito de que as gajas boas não se peidam? É simples: as gajas boas conseguem mais picha que as outras e por isso levam mais no cu. Não é só porque lhes dá gozo, não se enganem. Acima de tudo adoram levar no cu porque, em certo sentido, é o contrário de cagar. Por outro lado, a lassidão resultante do esfíncter anal faz com que os seus peidos saiam sempre de pantufas e nunca mal-cheirosos porque não se acumulam durante horas a fio como acontece connosco. O peido do homem nasce como um bebé num parto normal: com dificuldade, muita força abdominal e aos berros. Do mesmo modo, toda a gente sabe quando um novo chega, sendo em geral recebido com uma alegria imensa. Por outro lado, o peido da mulher (reles bufa), vem nas calmas como um turista a sair de uma catedral: em respeitoso silêncio pela história atribulada do local e apreciando as amplas e majestosas arcadas escancaradas. O homem, então, em vez de perceber que é pela sua própria acção enrabante que as gajas boas parecem não se cagar nem peidar, acha que de facto não o fazem por serem divinas. Para merecer gajas assim (pensa ele) tem também de parar de se cagar e peidar orgulhosamente. Ah, mas se cada cano rectal deixasse estrias únicas nos caralhos como os canos das armas nas balas não haveria falta de provas forenses em como já muita piça saiu ejectada daquelas peidolas “divinas”.

A verdade é que a mulher combate a merda com todas as suas forças. Com perfumes mata o peido, com as flores e enfeites nas casas-de-banho retira a mística do local, com as dietas deixa de comer e assim também de cagar. E o homem, feito parvo, acaba por pensar que quem tem um problema é ele.

Mudemos de cenário: imaginemos agora o recém-casado no seu pequeno apartamento com a sua jovem esposa. Ela está na cozinha e ele com ela a ajudar a descascar os legumes. De repente e sem aviso, dá-lhe uma incontrolável vontade de cagar. “Foda-se”, pensa ele sorrindo para ela enquanto luta com as nalgas contra o poito já com a cabeça de fora, ao mesmo tempo que percebe que nada do que viu nas comédias românticas a que teve de assistir para conseguir comer o cu à namorada lhe poderá ser útil agora. “Querida, estive a beber café portanto vou lavar os dentes”, mente. Ela diz qualquer coisa romântica que ele já não ouve. Sai da cozinha e fecha devagar a porta da casa-de-banho atrás de si, simulando estar calmo. Abre a torneira, finge limpar a rouquidão da garganta e solta o primeiro de cinco ou seis peidos estrondosos de um cu nada rouco, procurando conter o orgulho paternal que lhe cresce no peito logo acima do intestino entupido. De pernas abertas, sentado na sanita, caga-se então como um bárbaro visigodo, gemendo enquanto esfrega a escova nos dentes da frente até fazer sangue a ver se ela ouve. No fim, tira um pedaço de papel higiénico e finge assoar-se enquanto limpa o cu, mas tem de fazê-lo à pressa porque não está constipado e se demorar muito ela pode perceber que não é um nariz congestionado e sim um ensopado de estrume que ele está a tentar limpar. Puxa o autoclismo. Clareando a garganta de novo, puxa-o uma segunda vez, esforçando-se por desentupir o engarrafamento de cagalhões à entrada do cano e as marcas de derrapagem na louça com a ajuda de um piaçaba envolto numa previdente armadura de papel.

Fechando atrás de si a porta do orfanato, dirige-se à cozinha. Azar do caralho: a água que deixara a correr para disfarçar a defecação deu vontade de mijar à mulher. Como gastou o dinheiro todo no anel de ouro não pôde comprar uma casa com duas casas-de-banho portanto ela terá de ir à mesma que ele. Sem saber o que fazer, o jovem recém-casado finge querer foder já ali na cozinha em cima dos legumes, romanticamente. Na tentativa de deixar a mulher excitada e em simultâneo estancar-lhe o mijo, enfia-lhe dois dedos bem fundo na pachacha mas só consegue com isso piorar a situação. “Aiaiai”, diz ela à rasca para mijar enquanto sai a correr disparada de mãos no pipi para a infame divisão onde paira invisível no ar a medonha peste castanha. Num rápido improviso, o jovem marido diz, “querida devemos ter um cano roto qualquer aqui na cozinha, cheira-me a porcariazinha”. Como planeado, e quase tão aliviado como quando se cagou, ouve a mulher responder da casa-de-banho as palavras bêbedas de quem luta contra a inconsciência, que tanto esperava ouvir: “Tens razão, querido, chama o canalizador. Mas olha que o cano roto deve ser da casa-de-banho… Está aqui um cheiro a merda que não se pode”.

Sem me querer alongar mais, concluo. Homens que leiam isto, nada do que façam pode escamotear o facto de que produzem em média 275kg de merda todos os anos. Cada grama dessa pilha vai cheirar bastante mal e nenhum spray vai tornar o pivete mais romântico. Portanto, se quiserem conciliar merda com romance, levem um para ler quando forem cagar. Camaradas machos... da próxima que se virem numa situação de duelo entre a vontade de cagar e o romantismo conjugal lembrem-se apenas disto: em vez de ficarem preocupados com o que pensaria ela se descobrisse que vocês se cagam à fartazana todos os dias, invertam a ordem do pensamento e caguem todos os dias para o que ela pensaria sobre isso. E assim sim, viverão felizes para sempre.

5 comentários:

  1. Bela dissertação caro Príapo.
    Tenho de admitir que o ciclo cagónico sempre me despertou bastante interesse (mas não tanto ao ponto de me excitar com o "two girls onde cup") e, inclusive, admito que já falei disso com a minha conjuge. Ela limitou-se a gargalhar pensando que eu estava a brincar e, para não a chocar com a realidade intestinal do Homem, gargalhei com ela.

    Quanto ao primeiro tópico que abordas (o "No Pants"), eu cheguei a pensar em participar nessa iniciativa, mas depois do que aconteceu no passado dia 17 de Dezembro (dia do terramoto que abalou o nosso país), concluí não o fazer.
    Agora perguntas tu:
    "Mas que raio tem isso a ver macambúzio?".

    Ao que eu te respondo:
    Em primeiro lugar, macambúzio é, quem macambuzices faz. E eu não sou desses. Em segundo lugar, dia 16 tive um pequeno problema com o aquecimento cá de casa (aquilo avariou-se e a casa ficou um forno), pelo que dormi completamente pelado. De madrugada acordei com uma vontade incontrolável de expelir a minha urina, logo, levantei-me para ir ao WC, resultado: erro crasso, esqueci-me que não possuía qualquer suporte para o meu bajoulo, que se estatelou no chão com tal força que o resultado foi o que se viu.
    Foi o receio de provocar outra catástrofe semi-natural que me fez recuar na minha decisão...

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  2. Mais uma vez, brilhantemente cómico - e, simultaneamente, um post de merda!

    Há também um conhecimento social que convém aprofundar. Refiro-me, naturalmente, às técnicas utilizadas no sentido de evitar o humedecimento do orifício anal aquando da libertação do cagalhoto.

    Isso, sim, seria outro post de merda. Fica a menção.

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  3. Pois é, Misto, para a próxima é esperar pela tesão matinal para mijar. Exige alguma técnica mas evitam-se catástrofes naturais incomodativas. Agora faças o que fizeres, NUNCA mijes sentado. No dia em que o fizeres deixarás de merecer os tomates que envergas. Como disse um grande filósofo meu amigo, "homem que é homem, se estiver a cagar e lhe der vontade de mijar, levanta-se".

    E grande Luís, é sempre um prazer encontrar-te por estas bandas virtuais. De facto o fenómeno do salpicão (salpicos causados pelo cagalhão) é um flagelo na vida de todo o herói de sanita, e heroína também porque no caso delas não só as nalguedo mas também a rata leva com tudo o que estiver a boiar na água naquele momento. Valeria sem dúvida a pena dissertar sobre o assunto. Por acaso tive um amigo cuja namorada engravidou assim, numas férias que foi passar a Cuba.

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  4. excessivamente escatológica dissertação mas muito divertida!

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