terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Be Your Own Dog

Artistas convidados:
A. Mimura (ilustrações)
Alexandre Von Niagarin (texto)

Why this title for the post? I don’t fucking know. Talvez, apercebendo-se o autor do post de que soara, nessa altura, o sino que reunia os criados, anunciando assim a hora do almoço, não pudesse mais perder tempo com o título do post. Ou porque nós precisamos de instigadores, ou porque nós precisamos daquela espécie de homens tocados pelo fogo e pela aventurança, ou porque certamente nós precisamos de anarquistas. A propósito: Go fuck yourself! God Shave The Queen!

Como tal, a expressão: “to be your own dog” nada diz de concreto, mas significa algo. Algo que, à partida, poderá ser definido em duas vertentes simples: a sádica e a masoquista. Ambas, por estranho que possa parecer, aproximam-se, ou seja, desembocam em clarividência e riso. Num riso ou mais demoníaco ou mais angélico, mas atingindo igual fim e condição. Enquanto metáfora visual, o palhaço serve de ilustração perfeita para elucidação da noção sádica e simultaneamente masoquista de “to be our own dog”; pois o palhaço é a sua forma viva de actuação - expressa masoquismo enquanto tristeza imanente e sadismo enquanto riso destrutivo.

Eu, como ser pio, prefiro a condição sádica, irmã da masoquista, mas deveras mais impediosa, grotesca, bestial e trocista. Eu, deveras que simpatizo mais com o enorme animal vulvo que percorre os bosques urrando, e em cujas veias corre um sangue novo e profético, do que ser o ser élfico e sibilino, atormentado pelo desgosto profundo. Ou seja, “to be your own dog”, significa acordar numa madrugada e farejar a razão deliberada da sua ausência, isto é, significa ser o nó da corda do cabo de enforcamento e simultaneamente o enforcado.

O clarão de espanto que refulge nas vossas pupilas de leitor deve-se ao facto de algures em vós nascer agora a cauda do instinto que se reconhece como senhor de si e não cão de outrem.

Este renascer como fénix não é obra fácil e a muitos está vedada, porque maioritariamente sois cão de outrém por natureza devida e merecida. Mais problemático é quando o horror e maleita atávica grave do sangue luso vos corre nas veias; aí, a tua predestinação para ser um mísero cão de outrem é exponenciada por um número infinitos de órbitas. E a maneira mais fácil de vos libertardes desta infâmia e mostruosidade é dizendo: mata-me, mãe. E originando o acto. Para os outros que estão a salvo do mal primeiro, a predisposição para cão de outrem é altíssima, mas ainda assim com probabilidades de cessação.

E isto como: acossando o teu ser cão da sobrevivência e da submissão com os piores tipos de males até que se torne o cão da insubordinação e da peleja. Esquecei os dias, pois que esta fera pertencerá à noite, se tiverdes vós coragem para tanto... tu, cão reles e submisso, habituado à malga bolorenta e húmida, servida com desdém, porque és cão de outro cão, que cão vassalo igualmente de outrem o é.

Se conseguirdes a primeira metamorfose, que de mais não se trata do que do entendimento existencial disto que vos afirmo, tereis dois caminhos perante a visão da noite onde estais submerso: ou reagirás optando pela condição sádica ou pela masoquista.

Na condição sádica: saberás que serás sempre cão de outrem, mas não obedecerás; serás cruel, invulgar, temerário, perderás amigos, terás cumplices e verás a inteligência como uma doce imbecilidade; devido a esta natureza beligerante deixarás de ter amo, porque tal ferocidade incomoda e repulsa semelhante propósito. Os caninos inclusos da clarividência surgirão numa fase X que te levará ao riso grotesco e assim clarividente.

Na condição masoquista: saberás que serás sempre cão de outrem, mas obedecerás; serás cruel contigo, irás parecer vulgar, não serás temerário ou temido, não terás amigos nem cúmplices, e a inteligência será o único reconforto devido à natureza triste dessa conduta. Terás amo, que te será indiferente, e numa fase X irás rir, expondo propositadamente um sangue negro nas flor dos lábios que é, em certa medida, a textura da clarividência e assim de igual modo o é riso grotesco.

Ou seja, o sentimento masoquista assemelha-se ao ser cão de outrem na proporção de factos mas não na natureza da essência. O sentimento masoquista de ser cão de si próprio é grandemente já o salto de abandono da trela, mas a fase um de duas; a fase dois ou a sádica é mais pérfida e mais venenosa e, como tal, mais difícil de se realizar, mas é a mais triunfante e desejada. No entanto, a fase um é passo necessário e que coloca quem realiza a acção num patamar diferente de ser cão do cão de outrem.

“To be your own dog” tem como descrição possível: ir pela vida fora com sentimentos nus, tropeçando no orgulho da queda, unicamente porque à queda estamos magnetizados, mas abraçamo-la nos momentos mais íntimos, porque o desejamos, sem autorização da própria ou de outrem.

P.S. Para que reporteis o estado em que me encontro, envio-vos uma última nota, assim: no final da leitura, que se avizinha, e que foi perda vossa de tempo e insípido modo de existir, porque a nada verdadeiramente sabe (eu minto-vos escandalosamente e delicio-me com o vosso sofrer, porque não sabeis mais o que pensar), podeis tu, ó cão mísero e sarnento, arrumar as ancas na tua casota de pedra, que vou eu e a graciosa noite a passear...

10 comentários:

  1. Obrigado, caros Mimura e Niagarin. Enquanto seres caninos em perene cio estão sem dúvida livres de sarna. E Niagarin, vejo que o ódio profundo pela mentalidade "cão de outrém" portuguesa que tão bem te conheço não arrefeceu com a chegada da chuva ('o horror e maleita atávica grave do sangue luso'). Em geral até concordo mas tenho de acrescentar um pedacito de verdade eterna: antes ser cão de outrém do que mi proprio perro, cariño.

    Uma abraço a distância que não pique.

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  2. San curti a cena e divulguei não sei ao certo porque o fiz, mas fi-lo.
    KremeHug, Seu,

    Rose Mary.

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  3. Como metafora da portugalidade (como condição clínica) confesso que perfiro, dada a simpatia que nutro por caninos, a toupeira. É que, afastadas as evidentes implicações lúdicas, e, sem dúvida, incofessavelmente apelativas do grito sado-masoqista dos Stooges "I want to be YOUR dog", coisa que, ao contrário do wrestling, podemos fazer em casa, o português é muito mais dado a andar às cegas nos labirintos subterraneos dos seus complexos e introversões, evitando, sempre que pode o confronto com o mundo exterior, que sente como uma agressão.

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  4. (continuação)Somos assim, não devotos caninos, com uma entrega simples e verdadeira a um dono, mas escravos cegos de uma vergonha que nos domina impiedosamente e cuja raiz mergulha ... Nem sei bem,alguém, por aí, sabe?
    Belas ilustrações.

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  5. Mas being your own dog tem as suas excepções. Por exemplo, supondo que vais preso e tens de te tornar somebody's bitch para não seres eveybody's bitch.
    Como conciliar a dogness com a bitchness?
    Penso que é uma questão que ficou na mente de todos e seria importante clarificar.

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  6. Questão pertinente, essa. Deu-me que pensar.

    Ora, parece-me haver duas maneiras de conciliar dogness com bitchness. Primeiro, podes escolher ser someone's bitch para que a punheta não fique em segundo lugar na lista das actividades sexuais preferidas dos reclusos, atrás do acto de te enrabarem barbaramente. Depois, podes tu próprio apropriares-te de um fresh fish que ainda seja nobody's bitch e fazeres ao cu dele o que o teu dono faz ao teu. Se o esperma que te entra pela peidola durante a noite entrar no cu de outrem durante o dia, a harmonia do Universo é matematicamente reposta (uma enrabadela positiva mais uma enrabadela negativa dá zero), e tornas-te então your own dog, ainda que com uma lassidão anal matematicamente inexplicável.

    Outra forma seria usar uma martelinho para escavar um buraco numa parede mais macia da cela da cadeia um pouco todos os dias, escondendo o buraco atrás de um poster de uma gaja boa e o martelinho dentro de uma Bíblia adaptada. Fazendo isto, conseguirias obter todos os dias uma pequena quantidade de grãos de terra e areão (resultantes da escavação), que poderias então aplicar nos entrefolhos da peida para arranhar o pénis ao teu dono. Assim, ainda que fosses someone's bitch, continuarias a ser your own dog porque apesar de levares uma sova todos os dias ninguém te enrabaria por medo de vazar a piça nesse cu de lixa. Porque se a escolha for entre esta díade, venha de lá essa sova.

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  7. Caro Príapo,

    São interessantes os factos que suscitas e as potenciais maneiras de conciliar a dogness com a bitchness.
    Mas esqueces-te que espancar um fresh fish sendo tu próprio fresh fish pode levar a que um Gangbanger que quisesse fazer daquele fresh fish o seu Prag fique danado contigo e, em troca, te proclame no pátio como everybody's bitch antes que possas tu próprio tentar reclamar a cock-meat sandwich a manjar durante a estadia na cadeia.
    Já a ideia de a esporra entrar na peida e sair disparada pela picha para se fundir na merda de outro poderá muito bem criar uma cadeia (de elos, claro, não no sentido de prisão porque seria redundante) na qual aquele indivíduo poderia muito bem passar a esporra para outro que me enrabaria posteriormente e depois me fizesse apanhar a SIDA de que já me tinha visto livre ao passar para o outro.
    Falas destes assuntos com alguma leviandade pois esporra no cu dos outros para nós é refresco.

    Quanto à segunda, ideia, por mais original que seja, receio que não proceda.
    Em primeiro lugar porque a Bíblia apenas serviria para sentar o cu todo lambuzado em esporra fruto da violação geral a que me sujeitaria aquando da tentativa de pôr em prática a tua 1ª sugestão. Poderia sim fazer um buraco na Bíblia mas era para assentar lá as nalgas para que o hemorroidal ficasse lá no meio sem tocar nas arestas.
    E é sabido que prisioneiro entesoado quando não vai ao cu vai à boca. Por mais engraçado que fosse eu perguntar: "quem é que tem terra no cu?" para obter como resposta um "és tu", era certinho que a seguir ia ter a 2ª experiência mais traumática da bootyhouse que é levar com um cano na cremalheira e xuxar pichas a noite inteira para acordar com uma barrigada de esporra capaz de causar azia.

    Ora, parece-me difícil conciliar o conceito de being your own dog com enrabadela de grupo nas nalgas e violação na boca. A menos que, neste segundo caso, falássemos em being your own puppy e se pudesse falar em receber de mamar, mas ainda assim já é outro conceito, a meu ver, impassível de ser subsumido ao primeiro.

    Portanto peço-te que apresentes uma terceira via para a conciliação de dogness com bitchness quando te fazem grab your ankles

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