quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

"Atentadinhos"


Geralmente em público até me porto bem. Posso orgulhar-me de ser um cidadão respeitável e respeitado entre a comunidade ignorante da verdade. Exceptuando os casos em que uma gaja particularmente mamalhuda me aparece à frente com aquele olhar de puta que todos sabemos que lá está apesar de não desviarmos o olhar das mamas para encará-lo, na rua costumo guardar o priapismo dentro das calças e não dizer nada mais ofensivo do que, sei lá, “cocó”, quando efectivamente piso uma poia ninja plantada à beira-estrada, como aconteceu hoje de manhã. Porém, no dia em que soube da notícia do Berlusconi não consegui conter-me. Ao inteirar-me dos factos lendo o meu jornalzinho no café, degustando um doce compalinho e uma crocante torrada hexapartida, soltei uma incontida caralhada à Príapo seguida de um “foda-se esta merda toda” mesmo ali ao lado de uma velha, que apesar de tudo bem mereceu ouvir o que ouviu porque cheirava a cona de cadela sebosa logo de manhã, filha da puta. Exteriormente lá me recompus, esfregando o joelho com um sorriso parvo nas trombas num gesto ensaiado já para quando se dão casos destes, como tivesse dado uma cacetada involuntária na mesa, mas por dentro o palavreado continuou, num imparável crescendo de fúria e originalidade.

E o mesmo deveria ter acontecido a todo o indivíduo civilizado que viu o vídeo do que aconteceu. É que não se pode escamotear o facto de que a focinheira rebentada do primeiro-ministro italiano traz implicações muito mais graves do que a impossibilidade de vir a fazer mais broches e minetes a pré-adolescentes nos próximos meses. Não, aquele trombil ensanguentado é a própria personificação e confirmação da espiral de decadência em que a sociedade ocidental rebola aos trambolhões há mais de um século. É, na verdade, a cabeçada no último degrau antes de batermos todos com os cornos no chão imundo da completa desesperança do homem moderno. Quando algo deste género acontece a um primeiro-ministro de um país europeu nos dias que correm, é preciso dizer que algo não vai bem.

Falo, claro, da imparável marcha em direcção ao apogeu da mariquice que se vem verificando nos atentados a figuras públicas desde que Lincoln levou um balázio nos cornos em 1865, ou assim também o nosso badocha D. Carlos I em 1906. Que diabo está a acontecer ao mundo e como é que permitimos que aconteça? Antigamente, quando era para matar não se brincava. Veja-se o belíssimo exemplo para as nossas crianças que é o perfeccionismo homicida de Yusopov e seus capangas no assassinato de Grigori Rasputin, o grande místico priapista russo, em 1916. Rasputin, segundo consta, tendo ingerido veneno suficiente para matar vários homens, sobreviveu, tendo sido então baleado cinco vezes nas costas por Yusopof, depois espancado por todos os referidos capangas (visto que continuava a pedi-las), primeiro ao soco e ao pontapé e de seguida à paulada, depois castrado, envolto num tapete e atirado ao geladíssimo rio Neva – onde morreu afogado. Isto sim, era um atentado. Não havia cá paneleirices para ninguém.

John F. Kennedy, Gandhi, Malcolm X, Martin Luther King, John Lennon, todos eles se viram livres do sebo que os conspurcava por homicidas que não se importavam com o incómodo que a morte poderia causar aos seus alvos. Fizeram-no de maneira menos inventiva do que no caso de Rasputin, é certo, mas nem por isso menos eficaz. Findos os tempos áureos do assassínio, tornou-se por fim manifesto que a decadência mariquinhas tinha começado o seu avanço inexorável, ironicamente com o caso de um atentado a um homem com nome de menina. Em 1981, no dia de Fátima, Karol Wojtyla, a.k.a. Papa João Paulo II, foi baleado em plena Praça de S. Pedro, mas apesar de ter ficado todo fodido não morreu. Começava a era do atentado de merda. Após considerados os dados da análise balística, “Milagre de Nossa Senhora de Fátima!” foi a explicação lógica que o Sumo Pontífice encontrou para não ter sido chamado ao escritório do Patrão nesse dia. Por acaso ninguém me perguntou mas tenho a minha própria teoria sobre o assunto, e não envolve intervenção nenhuma da Nossa Senhora. Há, isso sim, uma grande semelhança entre o milagre da sobrevivência do Papa e o da Imaculada Concepção: em ambos os casos, o projéctil em questão penetrou na zona do intestino. O problema foi que o agressor na Praça de São Pedro era zarolho e em vez de apontar um pouco abaixo da zona do ridículo chapeuzinho papal, apontou para a santíssima tripa. Resultado: hemorragia e caganeira interna mas nada que exigisse um milagre para lá do alcance das capacidades de uma equipa de cirurgia moderna. Não deixa é de ser curioso que um dos membros da comissão parlamentar envolvida na investigação deste atentado tenha sido o próprio Silvio Berlusconi. A mariquice homicida tem a sua ironia…

Fiquei um pouco mais animado quando deram cabo do canastro a Ytzhak Rabin em ‘95, o enervante judeu, mas foi Sol de pouca dura. Em ‘99 um tanso qualquer falhou na tentativa de reunir George Harrison a John Lennon, e em 2002 Jacques Chirac sobreviveu a uma tentativa de fuzilamento por parte de um puto neonazi míope de tal modo incompetente que o Jacques nem deu por nada. No ano passado, quando eu pensava que as coisas não podiam piorar mais, George Bush desvia-se a rir de um par de sapatos pateticamente arremessado. Nunca disse “caralho” tantas vezes como nesse dia.

Finalmente, ainda este ano, um pouco de esperança: o Presidente da Guiné-bissau, João Bernardo Vieira, é cortado às postas de bacalhau por um gangue qualquer de pretos armados com facalhões de desbastar mato. Parecia que estávamos a voltar aos bons velhos tempos, era desta que íamos voltar a ter mortes de jeito no telejornal.

E depois, a ignomínia total: Silvio Berlusconi, primeiro-ministro italiano, leva com um souvenir na boca… Senti-me genuinamente envergonhado em nome de toda a Humanidade civilizada. Não um revólver, não uma faca, mas uma réplica do Duomo, a paneleira catedral de Milão. Que decadência desde César. Como se terá sentido o italiano médio com esta notícia? Ponham a coisa em perspectiva, imaginem que amanhã percorria o mundo a notícia de que José Sócrates tinha levado com um galo de Barcelos nos dentes. Ou, vá lá, com uma miniatura do Pavilhão Atlântico (ainda que não fosse exactamente o mesmo visto que não tem arestas e comparado ao Duomo fazia era festinhas). Ou que em pleno debate parlamentar o Paulo Portas lhe tinha atirado com um caralhão das Caldas que de algum modo conseguira esconder da segurança à entrada? Sentir-se-iam orgulhosos? Ou, pelo contrário, sentiriam o orgulho a ser enrabado por uma cobra de peluche, fofa por fora mas rija que se farta por dentro, das que se vendem no jardim zoológico?

O que se seguirá a isto, pergunto-me? Estaremos a chegar ao dia em que se considerarão atentados à vida de Tony Carreira as cuecas ensopadas em corrimento vaginal atiradas para o palco por centenas de velhas húmidas, saudosas dos tempos de juventude em que ainda lhes corria sangue do pito sem que para isso tivessem de enfiar um caralho a pilhas até ao útero? Prender-se-á gente no aeroporto por tentativa de insulto à chegada da selecção nacional após a costumeira humilhação no estrangeiro? E se eu me dirigir ao Palácio de Belém com o intuito de usufruir do meu direito constitucionalmente protegido de dar um peido matarruano na boca nunca completamente fechada do Cavaco, serei cercado pelos matacões carecas de óculos de sol e auriculares a pedirem-me para pousar o cu no chão devagar e deitar-me de barriga para baixo com as mãos atrás da cabeça?

Espero bem que esta merda mude porque não aguento mais estes atentados de quem massaja o alvo com óleo de amêndoas na esperança de causar uma reacção alérgica. Que é feito das bombas, dos tiros, das facadas, em suma, dos assassinatos brutais e eficazes de outrora que tanto prazer nos causavam quando anunciávamos publicamente a pena que nos tinham causado, porque, enfim, coitadinhos? Será que já ninguém tem colhões para tirar uma vida à homem? Terei de fazer tudo sozinho? Foda-se.

7 comentários:

  1. "Será que já ninguém tem colhões para tirar uma vida à homem?" não tem os ditos cujos ou estamos perante um serial killer com registo criminal mais sujo que corte de suinos?

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  2. As vozes na minha cabeça dizem para não responder porque a pergunta tem rasteira.

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  3. Tás a ficar afectado pelo frio. Não é possivel "pousar o cu no chão com a barriga para baixo", a menos que o gajo do Saw te tenha serrado de alto a baixo (David: não achas que era uma bela prenda de Natal para o mano?) ...
    Quanto a atentados de merda, deixaste de fora a palmadinha que o Mário Soares levou na Marinha Grande. Se em vez de palmadinha tivesse sido uma paulada à bruta, agora éramos todos espanhóis o que, se tivermos em consideração que "nuestro hermanos" têm vencimentos 30% superiores aos nossos, até nem era má ideia.
    Feliz Natal e continua a cagar postas de pescada.

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  4. Caro Sensei Peixoto, como é natural, o facto de que não é possível pousar o cu no chão com a barriga para baixo não me passou despercebido no momento de transe orgiástico em que escrevi essas palavras. É que talvez se esqueça mas eu lembro-o: este é o meu blog, e por esse motivo as leis da Física não têm cabimento entre estas paredes azuis enquanto eu assim o desejar. Aqui dentro se quiser até dou beijinhos no cotovelo ou faço a barba à dentada, e quem tiver problemas com isso tem o meu aval para correr à volta da mesa e enrabar-se a si próprio.

    Quanto à menção de uma possível União Ibérica, enfim... prefiro não responder já, já. A minha opinião acerca dos espanhóis merece uma posta de pescada de direito próprio. Um pouco de paciência, portanto, que estas merdas não se escrevem sozinhas.

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  5. San tens vindo a melhor no estilo e astúcia. Gostei de ler, fez-me rir. Parabéns pela inteligência e genuinidade.
    _ Que Santo Príapo em riste te tome nos seus braços hirtos bradando ao céus louvores de fálica inteligência!
    Com Amizade, Alexandre Vladimir Von Niagarin.
    P.s. enviar-te-ei material que realiza o convite teu.

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  6. Consegui chorar a rir!
    ehehehe!!! há pouco quase adormecia com o rato na mão, mas depois de ler este post, vou ter de encher os meus receptores opiáceos até conseguir dormitar numa paz embrionária

    Um abraiço ome

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