sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Abortos aos Pontapés


Ontem à tarde, enquanto beberricava uma cerveja numa tasca, o amigo de longa data que me acompanhava nas libações impugnou o bom senso da minha mãe por não ter optado pela via do aborto quando ainda ia a tempo, no contexto de eu ter dito que a mãe dele tinha ar de quem gostava de levar na peida e perguntado se levaria a mal que eu a comesse, aviando-lhe uma canzanada à bruta naquelas nalgas maduras num dia em que ele não estivesse lá em casa (por uma questão de respeito). O cabrão não gostou e passou-se, argumentando e gesticulando vigorosamente, ainda que, na tentativa de salvaguardar o bom-nome da sua mãezinha, tenha conseguido exactamente o oposto, deixando demonstrada sem sombra de dúvida a índole daquela que o pariu e para a qual o remeti com a maior urgência.

Decidi voltar a pé para casa, gozando da brisa que corria já que não podia gozar da boleia que me levara ao café. Enquanto caminhava, revendo mentalmente a peculiar sucessão de eventos anterior e galando a ocasional mamalhuda que passava, ocorreu-me um pensamento que não me abandonou desde então. O primeiro impulso do amigo leitor será, com toda a probabilidade, o de considerar que o meu devaneio mental incidia sobre uma qualquer vulgaridade brejeira a ver com esfodaçar pipis virginais de escasso felpo até fazer variz. Pois bem, equivocar-se-ia. O que me ocupava o espírito era, na verdade, a controversa questão da interrupção voluntária da gravidez e respectivas implicações éticas, despoletada pela alusão ao aborto feita na supramencionada conversa. O amigo leitor que tirou tais conclusões precipitadas é, como vê, estúpido, e se não tiver uma mãe boazona nem amigo é. É só leitor que se fode.

Bom, para ser honesto, não é inteiramente verdade que tenha sido apenas a alusão ao aborto que me pôs a pensar. A referência que fiz a comer a mãe do ex-amigo cabrão também teve algo a ver com a manipulação de conceitos que operei em torno da questão. Mas não saltarei de chofre para o fim, tal como não o faria para cima da mãe do amigo leitor. Primeiro, clarifiquem-se alguns pontos do que está em causa.

Por motivos de conveniência consideremos apenas o microcosmos de Portugal. Diz o art. 142º nº1 al. e) do Código Penal que a interrupção da gravidez, sob as devidas condições médicas, não é punível se “for realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas de gravidez”. A primeira coisa a perguntar, claro, é se isto não equivalerá a matar um puto, e é aqui que os juristas fazem alguns dos seus mais engraçados malabarismos. Por exemplo, diz o Juiz Conselheiro Benjamim Rodrigues no acórdão do Tribunal Constitucional sobre este assunto: ‘Tal princípio constitucional [inviolabilidade da vida humana] não demanda que a protecção plena da vida humana tenha de ser idêntica, em intensidade, em todo o continuum da vida e em todas as circunstâncias de facto’. O que isto quer dizer, portanto, é que às 9 semanas aquilo ainda não é beeem, beeem uma vida humana. É quase, e como a mãe é um ser humano por inteiro, o menino não tem querer e se se portar mal vai para o lixo sem jantar. Ora, é aqui que se torna necessário intervir o bom filósofo priapista, pois o insigne Dr. Benjamim parece esquecer-se de que se tivesse saído pelo buraco uns centímetros mais ao lado teria nascido com todas as características de um belo cagalhão. É a diferença que faz um “quase”.

Muito bem, acabou o preâmbulo. A questão em que tenho pensado, então, é a seguinte: se, de facto, um feto com menos de 10 semanas não é realmente ainda vida humana plena (o que quer que isso queira dizer), serei canibal se comer um aborto? “Aii, credo, que nojo”, dirão os mais mariquinhas de entre vós. Mas se tirarem o vibrador do cu e se sentarem, meditando nisto com calma, verão que a pergunta até tem razão de ser. Em primeiro lugar, o canibalismo, tal como a vida humana, não admite graus. Ou se come gente ou não. Portanto, se eu comer um “quase humano”, isso fará de mim “quase canibal”, o que em ambos os casos ainda não chega para sê-lo. Para que se perceba bem do que estamos a falar, veja-se primeiro o que é um feto humano com 9 semanas. É fofo mas realmente não se parece muito com uma pessoa. O que é, então, um aborto desta idade? Bom, suponho que terá o mesmo estatuto que o porco ou o frango. Afinal, não sendo alguém, é só carne. E só mesmo provando para saber mas é possível conjecturar que esventrando uma quantidade suficiente seria até possível fazer-se uma bela tachada de Tripas à Moda do Aborto (se tivéssemos suficientes, claro, nessa idade medem só 4 centímetros).

Ou será peixe? Neste estádio de ontogénese o feto tem ainda muitas características dos seus antepassados aquáticos, se calhar é peixe. Mais: tal como a pescada, o aborto recebe o nome daquilo que se lhe faz. Além de que, nessa idade, a coluna vertebral ainda nem é rija. Dobrando a espinha a algumas dezenas deles até se servia uma petiscada à séria de abortinhos de rabo na boca. Olha, lá está… “espinha”.

O que sei é que com tanta gente a morrer à fome é um crime desperdiçar-se a quantidade enorme de comidinha da boa que se raspa dos úteros portugueses todos os anos. Muita barriga se podia encher com o que se tira de outras. Só em 2008 fizeram-se 17.000 abortos voluntários no nosso País. Ora, estive a fazer as contas e se forem precisos quatro abortos de 9 semanas para se fazer 1cm de chouriço, e cada chouriço medir um príapo (30cm), só em 2008 ter-se-iam feito 142 chouriços de primeira. Pensem na quantidade de pobres que se teria alimentado com tanta chicha. Ou serão os pobres ainda menos humanos do que os quase humanos abortados?

Compreende-se que a ideia repugne, só houve um caso de canibalismo registado em Portugal e o esfomeado era ucraniano. Mas há pelo menos uma tribo que o pratica ainda hoje, não estaríamos a reavivar nenhum costume ultrapassado. E, repito, um aborto não é um ser humano. É carne. Ou peixe. O que é certo é que criação da aborte cuisine devolveria ao arroz de miúdos a dignidade que lhe foi sonegada pelas piadas do Michael Jackson e do Carlos Cruz. Só por isso valeria a pena. Agora, se depois de tudo isto a ideia de comer um aborto ainda repugnar, isso só pode querer dizer que quem o fizer é, de facto, canibal, sendo um aborto de 9 semanas, logo, um humano de pleno direito. O corolário é que quem aborta é um pouco mais do que quase assassina. Isto não quer dizer que eu seja contra o aborto, note-se! As assassinas, como todos sabem, são boas que se fartam, como a Sareena do Mortal Kombat, que ainda vai rendendo umas boas punhetas.

Eis, no fundo, o que se quer dizer:

Legisladores, não atirem areia para os olhos… se querem defender a opção do aborto não o façam no enquadramento místico e eufemístico de uma “liberalização do aborto”, em que a vida humana o é sem o ser e se mata sem se matar, mas como mais uma “exclusão de ilicitude do homicídio”, a acrescer à legítima defesa. Isso é que era à homem. É homicídio mas não faz mal. Também ninguém vai sentir a falta de um puto de 4cm que dá mais ares à pastilha elástica que a mãe masca na esquina do que à mãe propriamente dita.

E finalmente, gajas, não atirem sémen para a cona... se não gostam da ideia de matarem um puto passem a agasalhar o tarolo antes de o enfiarem na vulva ou, em alternativa, dobrem-se para a frente, mordam qualquer coisa e preparem a peidola para a futura hemorróida. Porque neste caso posso garantir-vos: o que aí vem não é peixe.

[Os meus agradecimentos aos dois carolas do blog O Legislador Ordinário pelo priapismo que demonstraram ao facultarem-me a sabedoria jurídica básica sem a qual este post nojento não teria sido possível]

4 comentários:

  1. A brincar, a brincar lá vais dizendo umas verdades!

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  2. Pois, já estou a ver qual vai ser o prato principal do Jantar de Natal do Real. Este ano, pra variar, vamos dar descanso aos cães de Massamá Norte.

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  3. Velho príapo tens vindo a desenvolver algo que considero bom.Ou seja,um estilo e um escárnio mui suis generis. Eu estou a gostar.Continuai e fodei o doce tutano da árvore da vida com a severidade de um esquilo faminto!
    Seu,
    Abraço

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  4. Obrigado, caro Anónimo, quem quer que sejas. Procurarei futuramente transcender o actual nível de roedor entesoado esfodaçando o hímen da floresta virgem até fazer seiva. Como é sabido de todos, vivo para servir.

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