terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Correio d'Amanhã - Príapo faz serviço público


Não são raras as vezes em que ouço dizer “Príapo, és um bardajão, um sabujo, e não dizes nada que se aproveite nessa merda de blog”. Como podem imaginar, ao ouvir tais palavras é-me impossível não ficar logo todo inchado, como convém ao verdadeiro priapista. Contudo, não é de modo algum verdade que não passo de um javardola sem causa ou que não tenho preocupações de espécie nenhuma, e quem o afirmar só pode descender de uma puta seropositiva de cona arregaçada. São vários os flagelos deste País que me ralam, alguns mesmo ao ponto de fazerem, por vezes, com que o perene ângulo agudo formado onde o meu marro se une ao meu ventre se aproxime perigosamente da perpendicular. Não é, portanto, um coração de pedra que me irriga a pila de sangue aos litros.

Um desses problemas em particular tem a ver com uma lacuna que já persiste há tempo demais no nosso serviço nacional de Correios. Hoje disse "Basta!". Cansado de ver Portugal privado desta forma fundamental de correspondência, resolvi deitar a mão ociosa à obra e escrevi aos CTT, expondo-lhes a ideia directamente. Eis aqui, priapis verbis, o email enviado:

'Exmos Srs.,

Venho por este meio oferecer uma sugestão para uma possível expansão do âmbito dos serviços prestados por V. Exas., de modo a colmatar uma falha nos mesmos que julgo ser de alguma gravidade. A ideia que proponho não é de modo algum original, sendo já praticada há largos anos nos Estados Unidos. Passo então a expô-la para V. consideração:

Em primeiro lugar, é necessário que louve a excelente qualidade dos serviços prestados pela ilustre instituição que são os CTT, dos quais faço uso amiúde, escrevendo para amigos e familiares um pouco por todo o mundo. Porém (e posso asseverar que vários outros partilham desta opinião), não deixa de ser constrangedor haver regiões para as quais se está terminantemente proibido de escrever sem que para isso os CTT ofereçam a menor justificação. Falo especificamente da região do Além, vulgo Reino dos Mortos. Neste ponto, tenho de fazer um apelo para que não tomem esta mensagem como uma brincadeira e que mantenham um espírito aberto.

A sugestão que ofereço vem nos moldes de um serviço já praticado alhures e cuja morada virtual convido V. Exas. a visitar - Afterlife Telegrams.

Este serviço, como podem ver, oferece a possibilidade de se enviarem telegramas a familiares e amigos já falecidos, pedindo-se a indivíduos com doenças terminais que memorizem as mensagens que os clientes desejam enviar e que as entreguem aos destinatários no Além após exalado o seu derradeiro fôlego (por uma quantia que pode ser considerada módica dada a distância que a correspondência tem de viajar). Uma vez que este serviço não está disponível em língua portuguesa, e como não se pode esperar que doentes terminais anglófonos memorizem mensagens num idioma que não só desconhecem como não estão em condições de aprender - por força da própria condição limitadora em que se encontram -, penso que este seria sem dúvida um campo que exige exploração, não só para vantagem dos CTT como do País. Há sem dúvida mercado para a correspondência transcendente, e apelo aos corações dos próprios que lêem estas palavras para que considerem aqueles que amaram e que já faleceram. Não gostariam também de lhes poderem dizer o que ficou por dizer em vida?

Aguardo a V. resposta com entusiasmo e sincera esperança de que será enviada antes de eu próprio me encontrar nessas regiões que o V. serviço ainda não abrange.

Com os melhores cumprimentos, subscrevo-me,

Príapo da Silva e Santos da Costa'
--

Pareceu-me um pseudónimo respeitável. Seja como for, fica demonstrado que também eu me preocupo em andar com este País para a frente. Porque O Filósofo Priapista não é só chavascal - é serviço público.

E claro, se os CTT tiverem tomates para me agraciarem com uma resposta, será postada aqui.

3 comentários:

  1. Mas tu queres provocar rebuliço no além? Consegues imaginar a quantidade de mensagens que lá chegariam que poderiam fazer com que as almas tentassem voltar ao nosso convívio? Eis alguns exemplos:
    - "Se o gato aparecer por aí, acredita que foi sem querer"
    - "Olha, afinal sempre voltei a casar"
    - "Lembraste daquele colar que tinhas pedido para ser enterrado com ele? Acabei por o dar à minha secretária.

    Abraço!

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  2. Olá Filósofo

    Não sei como é que podemos ser arqui-enimigos, se os nossos discursos têm registos ou tónicas bem diferentes! Além disso prezo a excitação que arde em lume brando. Gosto do seu espaço, um pouco agressivo nas palavras, será que pensei cínico?,mas eficaz no espraiar da idéia.

    Talvez o antagonismo (palavras suas)derive do seu blogue pretender ser um arquivo do maugosto, enquanto no excitações celebra-se o bom gosto e a elegância, ou pelo menos tenta-se.

    Mas é na diferença que evoluímos...

    Portanto meu caro Filósofo, diria que estamos distantes e próximos ao mesmo tempo. Paradoxo quântico? Pergunte ao Príapo...

    Beijinho, Maria

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  3. Caro Príapo,

    É sem dúvida de nichos de mercado deste tipo que o nosso país necessita para andar para a frente ou para cima talvez. Acho-o mesmo um visionário, belas palavras por vós proferidas. Como um defensor do serviço público e de bordeis legalizados, deixo-lhe uma mensagem de esperança e alento: continue assim neste registo, irá concerteza triunfar!

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